Florianópolis, cercanias da Praça XV de Novembro. Observem a arquitetura que se perdeu.
NO
DIA QUE AMANHECE
Neste
dia que amanhece nesta cidade cosmopolita como é Curitiba, lembranças me vem à mente, coisas agradáveis e até coisas
tristes que procuro esquecer.
Uma
coisa boa de ser lembrada são as reuniões que se processavam na minha casa,
quando morava no centro da capital onde nasci.
A
casa era um pit-stop pra qualquer saída pra festinhas ou bailes.
Uma
batidinha de maracujá habilmente preparada por nossa mãe marcava o início e
prenunciava a noite de sexta, ou Paineiras ou outro lugar qualquer, o que
importava era a turma estar reunida pra conversar, falar sobre o que nos
ligava, - o teatro - , brincar uns com
os outros, falar de futebol – sempre papo Avaí e Figueirense - ou, simplesmente, jogar conversa fora.
Havia
sempre os ensaios, por vezes exaustivos em se tratando de direção de Odilia
Ortiga para, muitas vezes, uma única apresentação no TAC ou no SESC, onde
participávamos do Grupo dos 20. Tantos ensaios para a peça sair perfeita e, na
estréia, sem a presença da diretora, estratégia para a “turma” aprender a andar
com suas próprias pernas.
Após
os ensaios, que tal um cuba, uma cerveja? Claro que um tira-gosto sempre
acompanhava.
Não
declino nomes, pois posso omitir alguém, mas era um grupo misto, com certeza.
Num clima de cordialidade, rapazes e moças sem qualquer outro mote que não o da
amizade, estávamos sempre juntos.
Não
havia telefone em nossa casa, fato que só obtivemos quando fomos para o bairro
Abraão e eu à época trabalhava na companhia telefônica e entrei no plano de
telefones para funcionários---cuja mesma linha possuo até hoje.
Falando
nisso, como os números de telefone foram crescendo à proporção que as linhas se
expandiam! Inicialmente o número do telefone tinha quatro dígitos, hoje, oito e
poderá aumentar dada a demanda.
Pois
bem, não tínhamos telefone, mas estávamos sempre nos comunicando, pois morando
no centro as visitas aconteciam somente pra dar um alô e ver o que faríamos na
semana, pois o estudo e o trabalho – alguns já trabalhavam – vinham em primeiro
lugar.
Ah,
esqueci dos livros! Um amigo do grupo vivia com um livro embaixo do braço, daí o
chamávamos de “suvaco ilustrado”. O cara era um rato de biblioteca. Com ele
procurava saber o que estava sendo lido. Sem TV, sem celular, o livro era um
companheiro inseparável e o é para mim hoje em dia.
Lembro-me
que li obras de Hermann Hesse, Isaac Asimov, George Orwell (pois não é que hoje
ainda se fala da obra dele, “1984”, e como o que está escrito ali se tornou
realidade!), e os autores que escreviam peças de teatro, sempre comentados por
algum do grupo, Neil Simon, Nelson Rodrigues, Samuel Beckett, Tostoi, Oswald de Andrade, George Bernard
Shaw, Ibsen, Bertold Brecht, Sófocles, Martins Pena, Millor Fernandes e tantos
outros que a partir dos anos 60 (do século passado, claro!) faziam a cabeça dos
jovens da capital, aqueles que estavam motivados para tal.
Então,
vivíamos os livros, o teatro, o cinema e, claro, as rodadas com um cuba, uma
cerveja ou, simplesmente, refrigerantes, o que importava é que estávamos unidos,
nas conversas sejam lá em casa ou no barzinho da moda.
As
coisas mudaram, a cidade mudou, o mundo deu muitas voltas.
Observo
que meus sobrinhos mantém suas amizades, tem a sua “galera”, vão às
baladas, mas tenham certeza, amizades como tínhamos e ainda
mantemos, embora só uma grande reunião no fim do ano, - poucos, muito poucos!
É
isso, no dia que já está na metade da manhã, as boas lembranças vieram à mente
e, queridos amigos que lêem estas linhas, como são boas estas lembranças!
Maura
Soares, Curitiba, aos 04 de fevereiro de 2011, 09.45h, hora em que direto no
computador, faço a digressão.