segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

OUVINDO O SILÊNCIO

Manhã. Tempo cerrado. Úmido. Resolvi que mesmo com o tempo ruim, devia sair para a caminhada.
No caminho entre  as praias, ouvi o silêncio.
O silêncio das ruas; o silêncio das casas.
Ouvi o meu silêncio, eu que tantas vezes cantarolo a última canção que ouvi no rádio pela manhã, antes de sair. O som dos meus passos ecoa nas calçadas.
Em direção à praia, passo pelas residências fechadas àquela hora da manhã de sábado; todos recolhidos embaixo das cobertas, tentando mais um cochilo no calor da casa.
Bom Abrigo.
Silêncio. O mar bate tranqüilo na areia. Um chuá chuá quase silencioso. Como eu. Como meu coração.
Ouvir o silêncio, assim dizem meus amigos filósofos.
“Ouve o silêncio da tua alma!!”
Uma que outra pessoa passeia com seu cachorrinho pela orla. Às vezes, um cumprimento.
Passo pelos jardins. Cães latem pra mim, numa forma de mostrar serviço e fazer jus à ração cara, ao banho em pet-shops de luxo.
Observo o mar. Observo as gaivotas, as pedras que em silêncio sentem o mar bater na areia. Hoje elas não recebem do mar a batida que o vento forçosamente traz  às suas costas.
Silêncio.
Hoje com nitidez ouvi  o silêncio da minha alma, que me remeteu ao meu amor que distante está de mim.
Ouvi o silêncio.
Ouvi também o bater do meu coração.
Ouvi no meu silêncio o teu e o meu nome sendo chamados.
Ouvi o carinho da minha alma que te remeto, meu amor, em todos os momentos, com um beijo sentido no meu silêncio.
Maura Soares - Aos 24 de julho de 2010
(elaborado mentalmente enquanto  caminhava, entre 9.00 e 10.30h, repensado e direto no computador  às 13.40h)

SE ACASO...

Se acaso na minha porta chegares
sem me avisar por ser hora tardia,
nem sei, amor, o que faria.
No primeiro impacto, correria pros teus braços
nem te deixaria respirar.
Depois abriria de par em par a minha porta
e te deixaria entrar.
Faria para ti todos os agrados
como um ser louco e apaixonado
e colocaria meu amor a teus pés.
Se acaso tentasses falar o porquê
de só naquela hora chegares
nem sei, não deixaria,
abraçaria com calor o teu corpo,
derramaria lágrimas de amor no teu rosto
e te beijaria com paixão.
Se acaso disseres venho só por pouco tempo
agarraria com paixão esse momento
e te amaria com sofreguidão,
nem te deixaria sentar,
pois junto do teu corpo iria querer ficar.
Da sala pro quarto sem demora,
pois  o nosso amor seria naquela hora
a tirar todos os momentos passados
em que não pude ficar ao teu lado
e iria à loucura,
me entregaria na hora sem pudor,
descarada,
me abrindo toda pra receber naquele momento
tua também louca paixão.
Se acaso...
Maura Soares - Aos 24 de julho de 2010, 07.50h.


TERNURA II

Ternura é tocar em cada ruga do teu rosto,
beijá-las com carinho no afã de livrar-te
das preocupações.
Ternura é sentir-te ao lado, mesmo que distante
e te contar as coisas triviais para fazer-te sorrir.
Ternura é gostar das coisas que tu gostas só pra te agradar.
Ternura é sentar contigo no banco da praça;
olhar as pessoas passarem e imaginar
que elas são felizes como nós.
Ternura é amar sem medida; é deixar a porta aberta
para o amor a qualquer hora poder entrar.
Ternura é dançar um bolero, é dizer ao teu ouvido
o quanto eu te quero e me deixar levar pela canção.
Ternura é embalar uma criança, sentir que no mundo
ela é a esperança e ficar feliz com esta idéia.
Ternura é olhar os nossos filhos e sentir
que nossos esforços valeram a pena.
Ternura, ao fim e ao cabo, é, sem dúvida,
AMAR o AMOR.
Maura Soares - Aos 11 de julho de 2010, 07.00h – domingo


TERNURA

Ternura é o que sinto por ti
desde o dia em que em minha vida eu te senti.
Ternura é um bem querer.
De todos, um dos mais belos sentimentos.
Se me tomas, se me amas,
a ternura flui como a água cristalina,
flui como a luz que penetra na janela ao luar,
flui quando dois corações apaixonados que
se debruçam no amor e a deixam penetrar na alma pura,
e no abraço carinhoso de um sincero amor.
Ternura é canção,
ternura é elevação,
ternura é paz de espírito,
ternura é o coração.
Maura Soares, um dos poemas com o tema, em 2010.
CIGARRO DE PALHA(*)

Após a lida com o mar, João tinha o seu cantinho para tirar as pequenas lascas do fumo de corda para o seu cigarro de palha.
Não tinha banco para se sentar na pequena varanda, pois o espaço estava ocupado com uma cadeira de balanço, com acento de palhinha, que Maria havia ganhado no dia do seu casamento. Aquela cadeira era dela e nela Maria se embalava quando tinha crochê para fazer ou alguma costura.
Respeito é bonito e eu gosto, pensava João. A cadeira é dela, não vou me meter.
João arranjou uma telha que havia sobrado do telhado da casa, e ali cortava o fumo e preparava seu cigarrinho para pitar calmamente.
Chapéu de palha para o sol da tarde não atrapalhar a visão, João ficava concentrado, cortando os pedaços bem miúdos. Depois, pegava a palha que comprava no armazém e que vinha acondicionada em pacotinhos com papel celofane, abria um deles, colocava o fumo picado, enrolava com cuidado e paciência e depois acendia, tirando longas baforadas.
Tinha sempre um facão afiado que levava na cintura para as emergências no mar. Se alguma coisa que não fosse peixe se enrolasse na sua rede, o facão funcionava para libertar. Cuidava para que Tonho não mexesse, pois o moleque era travesso; estava sempre aprontando das suas.
Olhar perdido no horizonte, João inalava o fumo com calma. Como morava perto do mar, seu olhar  fixava-se na linha do horizonte.
Lá longe, em alto mar, um navio atravessava indo, de certo, para o porto de São Francisco do Sul ou Itajaí.
Pensou em sua vida, quando certa vez, teve vontade de ser marinheiro. Conhecer outros lugares, pessoas, diferentes culturas.
Mas, sem estudo, não pode, quando tinha idade, ingressar na Marinha, mesmo porque precisava ajudar os pais e irmãos na luta pela sobrevivência com a pesca.
Mas sonhar faz bem. E João, nesse momento, pitando seu cigarrinho, sonhava com outros mares, outras paisagens.
O cigarro já estava no fim, quase queimando seus dedos. Dedos já amarelados do fumo usado há muitos anos. Pensou nos cigarros que haviam na venda. Vinham em um pequeno pacote. João até experimentou um, mas tinha gosto de papel. O dele, não, feito no capricho com o fumo cortadinho, era bem melhor.
E assim, sonhando e pitando, João passou o seu momento de descanso.
(*) Maura Soares, in “Não intica co´a bucica – Crônicas do falar ilhéu”, livro artesanal, inédito. Aos 04/02/2007 – 20:05h – horário de verão




         MOFAS CO´A POMBA NA BALAIA (*)

Expressão antiga da Ilha de Santa Catarina, tem sua origem nas relações comerciais.
Conta-se que um vendedor ambulante da Ilha, um daqueles que penduravam seus cestos em varas e os levavam ao ombro para vender seus produtos ao redor do mercado público, colocou seus balaios e balaias ao chão e começou a apregoar suas mercadorias.
O homem, além de outros produtos, vendia ovos e pombos vivos para criação e/ou alimento.
Não cansava de apregoar seus produtos com a voz mais alta do que a dos concorrentes, que enchiam a orla do mercado, no tempo em que o mar batia na área em que se situa o prédio histórico (veja fotos da época no site da UFSC:www.ufsc.br).
Pois bem, tal falatório despertou a atenção de um manezinho de Canasvieiras que tinha vindo para a capital( o centro da Ilha era chamado pelos moradores de seu interior, de capital) e afim de comprar uma moringa e um alguidar que a mulher havia encomendado.
O mané acercou-se do vendedor fascinado pela eloqüência do mesmo.
Em dado momento, já com a moringa e o alguidar num saco de aniagem que havia trazido para levar sua mercadoria, resolveu comprar uns pombos para a mulher fritá-los, acompanhados de arroz ou pirão de nailo. Não tinha a intenção de criar, pois sabia que os bichinhos, embora dóceis no trato, se proliferavam e, ao final, viravam uma praga.
Restavam-lhe alguns trocados. Separou mentalmente o que seria para a condução de volta e o restante, se desse, iria comprar uns pombos.
Resolveu perguntar o preço, num momento em que o vendedor parou de falar para tomar fôlego.
- Ô, moço, quanto qui o sinhori tá vendendo as pombinha?
 Cinqüenta centavos cada uma. Veja que são pombos da melhor qualidade.
- 50 centavos?! Ara, qui cosa cara, seu! Pode baxar o preço? Daí eu levo pelo menos uma.
- Não posso, senhor. A minha mercadoria é ótima, não posso baratear.
O mané, visivelmente contrariado com a resposta do vendedor e frustrado por não ter dinheiro para comprar, segurou o saco com o alguidar e a moringa, virou as costas ao vendedor e disse:
- Intão, mofas co´a pomba na balaia.
(*) Maura Soares, in “Não intica co´a bucica – crônicas do falar ilhéu”, livro artesanal, inédito. Aos 03/02/2007 -  19:15 h – horário de verão


NÃO INTICA CO´A BUCICA (*)

- Ô, João, cadê o Tonho?
            - Foi na casa do dotoire Jona levá as posta de inchova qu´eu pesquei dijaôje, sarguei e tinha que levá logo, pois o dia tá quente.
            - Ah, bão. Ispero que ele não fique por lá brincando com os minino, pois tenho que mandá intregá as renda que fiz pra Dona Carlota, lá na ponta do Sambaqui.
            - Diquiapouco ele tá aí, mulhé. Deixa de preocupação.
            - Esse minino me deixa c´os cabelo em pé. Nunca vi rapagi mais levado. Isso é pra pagá minha língua.
            - Deixa disso, mulhé. O minino é levado, pois eu era ansim quando era minino, tombem.
            - Vai dizê que ele só puxô a ti, João? E adonde fica o meu sangue, hein?
            - Ô, mulhé, quando a genti diz que os filho puxaro a genti, é purquê a genti era ansim quando era piqueno, ora! O meu sangui e o teu tão nele.
            - Ah, bão. Si é ansim, tá. Mas qu´eu fico preocupada, fico.
            Mais de uma hora depois, chega o Tonho, todo lanhado, com as pernas vermelhas de mercúrio cromo. Junto com Tonho, o amigo, filho de Nhô Lau, Tililica, apelido de José Libório.
            Os dois meninos chegam na porta do casebre de João e Tonho, cabeça baixa, com o nariz escorrendo de tanto ter chorado, entra ressabiado, pois sabe que o chinelo da mãe às vezes cantava em seus fundilhos.
            - Óia o minino aí, mulhé. Num disse que ele vortava?
            João então se dá conta da cara do filho, ressabiado, feito gato que lambeu banha e exclama:
            -  O que houve, rapagi? Caísse?
            Tililica vendo o amigo se esgueirando pela parede, se apressa em responder, mas, antes, a mãe vem da cozinha com a escumadeira na mão – estava cozinhando – e vendo o filho naquele estado deplorável, pergunta?
            - Minha Nossa Sinhora das Graça! O que tu fizesse, Tonho? Tu vai apanhá, seu safado.
            Tililica, interpondo-se entre a mãe e o filho, diz aos borbotões:
            - Eu bem que avisei pra ele, dona Maria, não intica c´oa bucica, mas o Tonho é teimoso...
            - Que bucica?, perguntou a mãe.
            - A bucica do seu Jona. Ele tem uma grande assim, que está sempre amarrada. Mas o Tonho não se conteve e jogou um pedaço de pau nela. Ela se soltou da corrente e partiu pra cima dele. O seu Jona apartou o cachorro, mas ele já tinha lanhado o Tonho. Daí o seu Jona levou o Tonho e passou mercúrio nele.
            O pai, calmo como todo pescador, pacientemente disse ao filho:
            - Inticasse com um bicho que não era teu, agora sofre.
            - Merece apanhá e já te dou c´a escumadeira, seu...
            - Calma, mulhé. Isso passa. Só tem uma coisa. Se aconticê di novo, eu é que te lanho. Já pra cama qui é lugá quenti. Hoje tu não vais mais saí de casa. O Tililica volta aminhã procês brincá.
Maura Soares, in “Não intica co´a bucica – Crônicas do falar ilhéu”, livro artesanal. Inédito. Aos 10.01.2007 – 21.20h – horário de verão

BARATA DE ALCOVA
Crônica de Arnaldo em 31.01 2011


            Despiram-se às pressas, dias sem se verem ou tocarem.
            O desejo lhes consumia a alma,o que dirá o corpo. Entraram em luta corporal, pois o amasso era com tanta vontade que parecia um campeonato de Judô.
            Deitaram e rolaram! Fizeram amor com a alma e com o corpo, nem ligando para nada, pois o mundo eram os dois.
            Recostada no travesseiro, ela, a barata de alcova,olhava perplexa aquela luta por sexo. Afinal, nunca vira nada igual.
            Quando o casal dava uma trégua, coisa raríssima, ela bebericava um gole de cerveja do copo abandonado pelos amantes.
            Recostava e voltava a presenciar aquele escândalo e já começava a se sentir excitada, mas ela, uma simples barata, como iria propor um “Ménage a trois”!
            Por certo eles não iriam aceitar. O homem parecia do tipo machista que a fêmea é somente dele e fim.
            Assistiu todo o embate, quietinha, morrendo de tesão, mas agüentou, já imaginando em casa a noite com seu Barato. O que não iria acontecer!
            E aconteceu! Os dois chegaram ao auge e tiveram seus orgasmos.
            Cansados, ofegantes, recostaram na cama, quando deram conta da pobre e excitada barata.
            Ela saia com cuidado, pé ante pé, para não ser notada, quando o brutamontes lhe dá uma chibatada com a toalha e acaba de vez com seus sonhos e desejos.
            Ainda com o pouco ar que lhe restou, ela, a barata de alcova, no estertor da morte, sussurrou o nome de seu amor!

NÃO QUERO SABER

Não quero saber do teu passado,
pois já o viveste
longe de mim.
Sou o teu presente.
Sou aquela que sonhou um grande amor
e agora, na plenitude, o encontra.
Contemplo o mar,
nesta hora encantada.
Sinto tua presença ao meu lado.
Teu passado fica lá longe
nas profundezas do universo.
Canaliza, então, meu amor,
tuas energias para o teu presente,
que sou eu,
que te deseja aqui e agora,
pois os instantes são fugidios
e nos deixam a chorar as despedidas.
Maura Soares
Aos 27 de junho de 2010, 09.40h, manhã
MAR DA MINHA ILHA

Ah, mar da minha Ilha,
cantada em prosa e verso,
onde em tuas areias
o sol se espreguiça,
as gaivotas procuram seu alimento.
Ah, mar da minha Ilha,
que eu gosto de contemplar
e pensar no meu amor!
O mar de Coqueiros
me inspira coisas pra fazer pra ti.
O mar calmo, as pedras,
a ilhota cercada de vegetação e pedras...
Vejo ao longe,
do outro lado da baía,
o aeroporto que,
em suas aeronaves
traz o teu amor pra mim.
Maura Soares
Aos 27 de junho de 2010, 09.30h manhã
QUERO ME ARREPENDER
Quero me arrepender de ter feito
e não do que não fiz.
Quero te amar sem medida,
em teu peito encontrar guarida
neste amor proibido;
tudo o mais não fazer sentido,
deixar nosso amor acontecer.
Se vais ficar comigo, não importa,
pois amor proibido não tem volta.
A porta do amor está aberta,
o sonho de te amar me deixa desperta
para o amor proibido fazer valer.
Vem querido,
me amar sem pudor,
entrega pra mim todo o teu calor
e vem comigo desfalecer de prazer.
Maura Soares
Aos 28 de junho de 2010, 03.50h –madrugada
         LEMBRANÇAS...

            Vivi numa época em que não havia como gravar o que se estava vendo. Por exemplo, você ia a um show do seu cantor ou cantora favorito e, quando muito, batia uma foto, daquelas que demorava para revelar e, nas mais das vezes, você ainda teria que explicar o que você queria revelar, poder se exibir por haver enfrentado filas quilométricas, pego um lugar longe do seu ídolo, tentar tirar uma foto e o amigo perguntar “quem é?”.
            Disse um amigo fotógrafo e nunca esqueci: “Todo fotógrafo tem seus dias negativos, além de muitos negativos a revelar”.
            Quando nos lembramos de algo da juventude, fazemos uma viagem não só no tempo, mas também para dentro de nós mesmos, tirando da memória o fato mais marcante e romantizando-o algumas vezes, mesmo porque vale a nossa narrativa e poucos serão os que contestarão; claro, não havia vídeo, youtube, essas coisas.

            [Romântica como sou, ainda conservo três máquinas daquelas analógicas, mas pela praticidade, carrego a digital. Bem mais fácil. Ah, tempos modernos!!!]

            Hoje em dia com máquinas digitais e celulares idem, pode-se registrar os momentos sem ser preciso revelar os filmes em óticas e ao recebê-las saber se ficaram boas ou não. Muitas vezes nos decepcionamos, quando certa ocasião, num filme de 36 poses, fiquei sem nenhuma! A máquina digital tem a vantagem de você chegar em casa e colocá-la no computador, deixando-a em arquivo próprio.
            Quando se recorda de algo a nostalgia toma conta no momento e o coração se enche de felicidade.
            Dizer que foi a melhor época, não sei, tudo era muito difícil, um primeiro emprego de salário mínimo; um segundo idem, até o concurso para o Estado e, claro, continuar no mínimo, porém com garantia!!!
            Mas nem tudo são espinhos, pois apesar de tudo, pude adquirir a casa própria, graças a Deus, sem precisar recorrer ao programa “Minha casa, minha vida”.
            Os anos 60 em que as amizades eram preservadas -  fato que até hoje existe – os amigos continuam as pessoas de sempre, foram anos de certa forma atribulados (tivemos uma “revolução” no meio, que nos tolheu as manifestações artísticas), mas que sobrevivemos e podemos até ensinar um pouco do que vivenciamos aos nossos filhos  e se o Arquiteto do Universo permitir, aos netos. A nobreza de caráter, a hombridade, a solidariedade, a amizade sincera, o amor. Principalmente este último.
            Quando em roda de amigos, daqueles amigos dos tais chamados “anos dourados”, sempre há algum dentre eles que puxa um assunto.
            Um dos assuntos era o carnaval e de como nos divertíamos, sobretudo quando conseguíamos adquirir o lança-perfume. Primeiramente apresentado em ampolas de vidro, depois de metal, uma lata dava pra se divertir muito, pois um lenço era encharcado e cada qual dava uma longa cheirada. Isto alegrava a noite. O pior é quando um engraçadinho, filho não sei de quem, resolvia jogar o tal spray nos olhos dos outros. Ficava-se cego na hora! Isto era terrível e o xingamento até à quinta geração do infeliz, saía na hora.
            Pois bem, não me recordo de ninguém da minha turma, pelo menos, viciado em lança-perfume e ninguém matando ou roubando para obtê-lo.
            Hoje em dia, tudo mudou; por dá cá aquela palha, a rapaziada, sob o efeito do crack rouba e mata para ter uma pedra, cujo efeito passa em poucas horas e os neurônios se queimando até a derrocada final, quando acabam na sarjeta e vão prestar contas de sua vida terrena em outro plano até reencarnar e se redimir de suas faltas.
            Então, lembrar é bom, coisas boas acontecem com o coração, que fica aquecido, principalmente quando a gente se lembra do primeiro amor, do primeiro beijo, do primeiro filme que assistiram juntos, da primeira música...
            Queridos, isto é papo para outra crônica.
Aos 31 de janeiro de 2011, iniciado as 08.00h e finalizado às 15.25h, com a realização de outras tarefas no intervalo.   
         MIGALHAS DE AMOR

            Chegou em casa, após a lida diária. Aquele havia sido o pior dia da semana. O cliente havia fechado a firma sem avisá-lo e ele quase enlouqueceu, pois viu escorrer entre seus dedos a sua tão sonhada comissão.
            E em casa, aquela coisa morna, desgastada após tanto tempo de casamento.
            Já não havia mais graça.
            Aquela coisa gostosa dela estar em casa esperando-o após o banho tomado, perfumada, com a dose de uísque a esperá-lo e ele a antever uma noite gloriosa de sexo, era coisa já de um remoto passado.
            Enfim, teria que se sujeitar. Aquele amor que ele ultimamente vinha pedindo, já o estava cansando, esgotando suas forças.
            Estacionou o carro, lembrando do dia difícil até acertar as coisas e finalmente não ter ficado no prejuízo.
            Ficou por uns momentos a ouvir a música dolente no rádio do carro, que falava de um amor fugidio que tinha levantado o ânimo do autor e lhe dado prazer.
            Pensou que poderia estar na pele do letrista e viver um arrebatamento nem que fosse por um dia, uma semana, um mês, mas que o ajudasse a sair do marasmo.
            Amava ainda aquela mulher que havia desposado, mas estava assim há tempos, à espera de algo que o fizesse ir às nuvens: um amor proibido.
            Leitor assíduo de romances de aventuras e de amor viu-se por vezes na pele dos protagonistas, sobretudo quando se tratava de aventuras extra-conjugais.
            Desligou o rádio, passou a mão na testa como que a afugentar pensamentos ruins, pegou a pasta com documentos, o laptop, fechou o carro e com passo cansado, entrou em casa.
            A mulher não estava.
            Estranhou, pois ela sempre lhe telefonava quando ia sair ou ir em casa de uma vizinha.
            Largou tudo sobre o sofá da sala e dirigiu-se à cozinha para preparar a bebida antes de ir para o chuveiro, depois ler o jornal do dia e descansar até o jantar.
            Sua garrafa de uísque não estava no local onde sempre estivera. Procurou em outros compartimentos; nada.
            Resolveu ligar para a mulher, porém observou que ela havia deixado o aparelho sobre a pia da cozinha.
            E agora, sem uísque, sem contato com a mulher.
            Há dias em que tudo dá errado. Aquele havia sido um, com pelo menos um saldo positivo, o de haver salvo o seu dinheiro da comissão.
            Resolveu, então, tomar um banho. Relaxado, veria o que fazer.
            Demorou-se o mais que pode com a água tépida a relaxar seus membros cansados.
            Saiu do banho, olhou o relógio. 20 horas!
            Pensou ter ouvido a porta da frente, bater. Foi até lá.
            Era ela que chegava com compras, sorridente, afogueada.
            Dizem que mulheres adoram fazer compras, é uma coisa orgástica, dizem os machistas de plantão.
            - Onde você esteve? Por que não levou o telefone? Poderia ter me avisado!
            - Por que tantas perguntas de uma só vez? Esqueci o celular, oras. Fui com Mariana ver umas promoções em blusas.
            - Você já não tem roupa que chega? Pra que se não gosta mais de sair comigo? Vai usar roupa nova pra ver televisão ou ir na casa da vizinha?
            - Ihhh, você está com o ovo virado, é?
            - Onde está a minha garrafa de uísque?
            - No mesmo lugar, oras.
            - Olhe, está vazio o lugar da garrafa.
            - Ah, é mesmo, esqueci de dizer que seus sobrinhos estiveram aqui à tarde e detonaram o que estava na garrafa.
            - Pelo amor de Deus, tomaram quase a garrafa toda, pois eu havia tomado só duas doses!
            - Ah, pra que fazer um cavalo de batalha por causa de uma bebida? Aliás, você nem deveria ter bebida de espécie alguma em casa, pois sabe que não pode beber.
            - É uma das coisas que ultimamente me dá prazer.
            - O que quer dizer com isso? Que eu não lhe dou mais prazer?
            - Prazer em que? Nas migalhas que você me oferta? Eu tenho que pedir um beijo, um abraço, sempre. Você nada dá espontaneamente.
            - Por favor, não vamos brigar. Estou cansada, andei a tarde inteira de loja em loja. Vou tomar um banho e depois fazer o seu jantar.
            - Hoje não precisa. Não estou com fome. Não precisa se incomodar. Vou fazer um sanduiche. Tem uma cerveja. Vou tomar.
            - Como queira.
            Ele, então, ficou sozinho a remoer sua solidão, embora não vivesse sozinho, pois além da mulher, havia dois filhos e a empregada que saía às 16 horas.
            Foi à cozinha, fez o lanche e com a latinha de cerveja na mão, sentou-se no sofá, sorvendo a gelada com vagar.
            Tantos anos casados, tantas juras de amor, tantas noites gloriosas de sexo e ele, agora na plenitude da vida, no momento em que precisava desesperadamente de carinho, recebe migalhas de amor.
            E ali mesmo, na solidão do sofá, adormeceu.
            Maura Soares
            Aos 28 de janeiro de 2011, 17.00 horas, horário de verão.
  
            ACORDA NO MEIO DA NOITE

            Acorda no meio da noite, como se o dia já estivesse adiantado.
            Levanta-se, todos dormem.
            Um silêncio sepulcral de doer os ouvidos.
            Depois do leite morno com biscoitinhos, para forrar o estômago, procura a poltrona,acomoda-se e deixa o pensamento fluir.
            Desloca-se para o Buritis, mais precisamente na casa dela!
            Está na cozinha, onde ela convida-o para um café.
            Estão sentados à mesa, conversando, se admirando e sorvendo
uma xícara de café, diga-se de passagem, o café mais amado que
já havia tomado.
            A gata, sem nada querer, espreguiça-se languidamente ao seu lado.
            Será que, por ser uma fêmea, cuja percepção vai além da imaginação, observa e acredita estejam enamorados? Será que aquela gatinha tão linda e preguiçosa, prevê que dali  iriam se amar na cama da amada?
            Em sua “viagem”, depois do café, caminham para a sala e se aconchegam à poltrona, onde se beijam o beijo quase eterno e se aquecem.
            Mas nem mesmo imaginando, não teve coragem de convidá-la ao amor!
            Não! Ali é seu lar! Ali é o local onde  seus filhos, seus netos passeiam!
            Não tinha o direito de macular seu santuário!
            Mesmo com tanta vontade de amá-la ali e naquele momento, seu senso de cavalheiro falou mais alto e despedindo-se, deixa uma saudade imensa!
            Se ela lhe convidasse, dissesse “me ame agora”, ele a  teria amado, mas receoso em magoá-la, preferiu partir e a gata preguiçosa, olhou-o de soslaio e riu, o riso dos gatos, como a lhe criticar!
            Quando deu por si, o dia começava a clarear.
            Bocejou de sono e voltou para a cama onde foi sonhar realmente com ela!
            Arnaldo, poetamigo. Aos 31 de janeiro de 2011, 11.30h – horário de verão
MIGALHAS DE AMOR

            Chegou em casa, após a lida diária. Aquele havia sido o pior dia da semana. O cliente havia fechado a firma sem avisá-lo e ele quase enlouqueceu, pois viu escorrer entre seus dedos a sua tão sonhada comissão.
            E em casa, aquela coisa morna, desgastada após tanto tempo de casamento.
            Já não havia mais graça.
            Aquela coisa gostosa dela estar em casa esperando-o após o banho tomado, perfumada, com a dose de uísque a esperá-lo e ele a antever uma noite gloriosa de sexo, era coisa já de um remoto passado.
            Enfim, teria que se sujeitar. Aquele amor que ele ultimamente vinha pedindo, já o estava cansando, esgotando suas forças.
            Estacionou o carro, lembrando do dia difícil até acertar as coisas e finalmente não ter ficado no prejuízo.
            Ficou por uns momentos a ouvir a música dolente no rádio do carro, que falava de um amor fugidio que tinha levantado o ânimo do autor e lhe dado prazer.
            Pensou que poderia estar na pele do letrista e viver um arrebatamento nem que fosse por um dia, uma semana, um mês, mas que o ajudasse a sair do marasmo.
            Amava ainda aquela mulher que havia desposado, mas estava assim há tempos, à espera de algo que o fizesse ir às nuvens: um amor proibido.
            Leitor assíduo de romances de aventuras e de amor viu-se por vezes na pele dos protagonistas, sobretudo quando se tratava de aventuras extra-conjugais.
            Desligou o rádio, passou a mão na testa como que a afugentar pensamentos ruins, pegou a pasta com documentos, o laptop, fechou o carro e com passo cansado, entrou em casa.
            A mulher não estava.
            Estranhou, pois ela sempre lhe telefonava quando ia sair ou ir em casa de uma vizinha.
            Largou tudo sobre o sofá da sala e dirigiu-se à cozinha para preparar a bebida antes de ir para o chuveiro, depois ler o jornal do dia e descansar até o jantar.
            Sua garrafa de uísque não estava no local onde sempre estivera. Procurou em outros compartimentos; nada.
            Resolveu ligar para a mulher, porém observou que ela havia deixado o aparelho sobre a pia da cozinha.
            E agora, sem uísque, sem contato com a mulher.
            Há dias em que tudo dá errado. Aquele havia sido um, com pelo menos um saldo positivo, o de haver salvo o seu dinheiro da comissão.
            Resolveu, então, tomar um banho. Relaxado, veria o que fazer.
            Demorou-se o mais que pode com a água tépida a relaxar seus membros cansados.
            Saiu do banho, olhou o relógio. 20 horas!
            Pensou ter ouvido a porta da frente, bater. Foi até lá.
            Era ela que chegava com compras, sorridente, afogueada.
            Dizem que mulheres adoram fazer compras, é uma coisa orgástica, dizem os machistas de plantão.
            - Onde você esteve? Por que não levou o telefone? Poderia ter me avisado!
            - Por que tantas perguntas de uma só vez? Esqueci o celular, oras. Fui com Mariana ver umas promoções em blusas.
            - Você já não tem roupa que chega? Pra que se não gosta mais de sair comigo? Vai usar roupa nova pra ver televisão ou ir na casa da vizinha?
            - Ihhh, você está com o ovo virado, é?
            - Onde está a minha garrafa de uísque?
            - No mesmo lugar, oras.
            - Olhe, está vazio o lugar da garrafa.
            - Ah, é mesmo, esqueci de dizer que seus sobrinhos estiveram aqui à tarde e detonaram o que estava na garrafa.
            - Pelo amor de Deus, tomaram quase a garrafa toda, pois eu havia tomado só duas doses!
            - Ah, pra que fazer um cavalo de batalha por causa de uma bebida? Aliás, você nem deveria ter bebida de espécie alguma em casa, pois sabe que não pode beber.
            - É uma das coisas que ultimamente me dá prazer.
            - O que quer dizer com isso? Que eu não lhe dou mais prazer?
            - Prazer em que? Nas migalhas que você me oferta? Eu tenho que pedir um beijo, um abraço, sempre. Você nada dá espontaneamente.
            - Por favor, não vamos brigar. Estou cansada, andei a tarde inteira de loja em loja. Vou tomar um banho e depois fazer o seu jantar.
            - Hoje não precisa. Não estou com fome. Não precisa se incomodar. Vou fazer um sanduiche. Tem uma cerveja. Vou tomar.
            - Como queira.
            Ele, então, ficou sozinho a remoer sua solidão, embora não vivesse sozinho, pois além da mulher, havia dois filhos e a empregada que saía às 16 horas.
            Foi à cozinha, fez o lanche e com a latinha de cerveja na mão, sentou-se no sofá, sorvendo a gelada com vagar.
            Tantos anos casados, tantas juras de amor, tantas noites gloriosas de sexo e ele, agora na plenitude da vida, no momento em que precisava desesperadamente de carinho, recebe migalhas de amor.
            E ali mesmo, na solidão do sofá, adormeceu.
            Maura Soares
            Aos 28 de janeiro de 2011, 17.00 horas, horário de verão.