domingo, 29 de abril de 2012

LAVANDO ROUPAS


 
LAVANDO ROUPAS

            Esta história começa quando, ao caminhar, como faço todos os dias pela manhã, paro para conversar e muitas vezes digo à pessoa com quem estava a conversar “não posso conversar muito tempo, pois estou lavando roupa”.
            A frase retornou-me à memória quando, ao contar flashes de sua vida pessoal que foi tema de um livro, um amigo disse que uma de suas tias havia sido lavadeira no Hospital de Caridade.
            Acordo de madrugada – coisa infalível nos últimos anos – para ir ao banheiro e me veio esta expressão “lavando roupas”.
            Como – lavando roupas? Quem está lavando roupas, eu ou a máquina?
            E o pensamento viajou para a vida das mulheres pioneiras – imagens vieram nesta madrugada como num filme como se eu fosse uma dessas mulheres ajoelhadas à beira dos rios com sabão feito artesanalmente, a bater nas pedras as roupas pesadas – saias principalmente – e depois colocando-as a quarar na grama ou as pendurando em varais rusticamente feitos pelos homens.
            Que tarefa árdua! Todo o encargo das coisas da casa ou dos carroções enquanto a casa ainda não havia sido construída com troncos de árvores, chão batido de terra...
            A pioneira dizia “não posso conversar, vou lavar roupa” ou juntava-se a outras na tarefa? Provavelmente que estou a me lembrar dos inúmeros filmes americanos que retrataram a vida no velho oeste quando pioneiros ingleses ou irlandeses disputaram em corridas de cavalos, ao fincar as bandeiras de suas famílias, as terras usurpadas dos índios, a expressão torna estranha minha tarefa hoje em dia: “estou lavando roupas”.
            Quem lava? A máquina, naturalmente, cada vez mais sofisticado seu manejo, só faltando inventarem uma que nem vai precisar que se coloque sabão – que não é mais em barra, aquele feito com cinzas e sebo – mas em pó com diversos aromas, deixando a roupa macia e cheirosa, como apregoam seus fabricantes.
            As roupas ficavam perfumadas como ficam hoje em dia? Creio que não, mas com certeza, com a força dos braços das mulheres ajoelhadas a esfregá-las, ficavam limpas para bem usá-las até a próxima parada da viagem pioneira, pois eram usadas durante uma semana ou mais enquanto durava a viagem para se estabelecer.
            “Minha tia lavava roupa no hospital”.
            Fiquei com isto na minha memória. Como deve ter sido a vida desta tia lavando pesados lençóis, colchas, fronhas e roupas dos pacientes das enfermarias?
            Tinham que ser bem lavadas por causa do risco das infecções.         Usavam sabões especiais? As roupas eram colocadas em tanques todas juntas? Como seria?
            Fruto da imaginação, pois nunca visitei a lavanderia de hospital algum, fico elucubrando como seria no início dos tempos quando o Hospital de Caridade ou como chamamos novamente, Imperial Hospital de Caridade, tratava aquelas mulheres que tinham a árdua tarefa de lavar as roupas dos pacientes – sobretudo lençóis fétidos com urina e excrementos?
            Que vida elas levavam ao saírem dali? Enfrentavam um longo caminho às vezes à pé até suas casas e lá também as esperava um tanque cheio de roupas?
            Com que direito tenho eu em dizer aos amigos casuais que encontro pelo caminho “estou lavando roupas”?
            Preciso rever esta expressão, pois meu trabalho hoje em dia está aquém do que aquelas valorosas mulheres pioneiras fizeram.
            Nem de longe pensar em me ajoelhar à beira de rios, pois os mesmos hoje em dia estão cada vez mais poluídos, cada vez menos, até, navegáveis.
            Penso nisto nesta madrugada, após a conversa com meu amigo ao contar apenas um flash de sua também sofrida vida.

            Maura Soares, aos 25 de abril de 2012, 05.30h 
(Tela de Sandro José, "Lavadeiras". Pintor pernambucano)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Veio primeiro a frase "A poesia não acaba quando um poeta morre" e ela ficou martelando em minha cabeça, logo pela manhã. Então, deixei o café de lado e caneta e papel na mão, saiu este poema.


A POESIA NÃO MORRE...

A Poesia não acaba quando um poeta morre.
Desde tempos imemoriais ela existe.
Está presente na água da chuva que bate e rebate
numa lata formando sons; no sorriso de uma criança;
na paisagem de um trigal ondulado pelo vento;
no som das cordas de um violão
quando o cancioneiro o dedilha e oferece
a música à sua amada.
A Poesia não morre quando o poeta
volta para Casa, dando por cumprida sua meta
em divulgá-la, em encher o coração
das pessoas de pureza, de sensibilidade,
de amor.
A Poesia não morre quando viaja
o poeta para lugares que só em sua mente
ela vivia e depois a transformava em forma
de versos e a deixava para a posteridade.
A Poesia não morre quando morre um poeta.
Sua existência aqui neste planeta é finita,
mas seu espírito viaja ao que é desconhecido para nós,
mas que ele sabe que sua passagem é transitória,
pois quando parte vai rever do outro lado
seus rios, seus montes e cascatas que tanto
o inspiraram em seus versos.
A Poesia não morre quando morre um Poeta...
Maura Soares
Aos 25 de abril de 2012, 08.45h

segunda-feira, 9 de abril de 2012

De repente, jogando Paciência Spider, veio a inspiração e tal qual uma febre, saiu este poema.


                   Caminho dos Açores, verão, 2012, Ilha de Santa Catarina

DE REPENTE, NO ÚLTIMO VERÃO

De repente, no ultimo verão,
me libertei das amarras que me prendiam a ti.
De repente, foi-se a angústia,
foram-se os dissabores,
foram-se as lágrimas à noite
sozinha no leito à tua espera.
De repente, no ultimo verão, o calor conseguiu
aquecer meu corpo e sentibrisa suave da tarde
a soprar no meu rosto dando-me
a sensação de leveza e de tranquilidade.
De repente, no ultimo verão, compreendi que a vida
é pra ser vivida na sua plenitude
e que os arremedos de paixão
vão-se com o vento,
vão-se com a chuva que tudo lava no final da tarde.
De repente, no ultimo verão,
vi que a minha vida valia a pena
e que não estava atrelada a ti,
mas que era a minha vida
e eu teria que vive-la plenamente,
mesmo que sozinha sem a tua presença.
De repente, no ultimo verão,
o sol veio e com ele a luz,
a alegria,
o ardor do peito por coisas boas.
De repente, no ultimo verão,
libertei-me das amarras,
os elos da cadeia se soltaram deixando-me livre
para viver o Amor como ele deve ser vivido
sem culpas,
sem mágoas,
sem arrependimentos.
De repente, no ultimo verão,
vi que a minha vida
valia realmente a pena.
Acordei do longo inverno da tua ausência.
Maura Soares, aos 09 de abril de 2012, 20.25h

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Poema na hora.Pura inspiração.



Melancolia

De repente me bateu uma melancolia...
Uma letargia...
Uma sonolência...
Uma insatisfação de tudo...
Uma saudade...
Uma tristeza no meu peito.

Parei para analisar,
E vi que a razão de tudo isto era a saudade de ti
Dos teus beijos, dos teus abraços, do teu corpo enroscado ao meu
Daquele ressonar gostoso que fazes à noite me dando arrepios

De repente encolhi-me no leito
Fiquei contando os minutos e as horas

De repente, barulho de passos
Me virei e deparei com teu semblante a dizer ‘cheguei’
E tudo o mais se dissipou.
Maura Soares, aos 2 de abril de 2012, 14.45h