sábado, 30 de abril de 2011

Mais um poema de Emanuel ilustra este blog.

ENDEREÇO       
Emanuel  Medeiros Vieira
 Perdi (perdemos) o endereço de Deus.
Perdi (perdemos)?
Estará no bolso da calça, na segunda gaveta, no trapiche da Praia de Fora,
no   Parque da Redenção, na Praça Castro Alves, na esquina  da São João com
a   Ipiranga?
Perdi o endereço de Deus.
Estará escondido na clandestinidade, dormindo em quartos com cheiro de mofo – Neocid
para  as pulgas –, ou nos interrogatórios no DOPS?
Nas fugas apressadas?
Perdemos o endereço de Deus,
mas  temos todos os aparelhos  eletrônicos,
da  China, do Paraguai, do Estados Unidos.
E sempre quereremos mais, mais,
cerveja  gelada anunciada pela loira gostosa, o carrão com a estrela da TV,
o  último produto – ansiedade perpétua, e continuaremos ansiando:
 e quando  chegar a noite, desmoronaremos.

Mamãe no fogão de lenha – tainha frita.
Papai – terno preto, chapéu, relógio de algibeira – vai ao mercado.
Turíbulos, matracas, incenso, a catedral escura: é tempo da Paixão.
(Das paixões).
Alfredo David sorri e toca na barba, Pepe gargalha e também ri,
Giocondinha  e Luiz fazem um brinde,
Patrícia oferece um café,
José escreve um artigo – óculos fundo-de- garrafa.
Cassinha –  com aqueles olhos azuis – abre os braços,
 quer  todos na  mesa  para o lauto almoço,
Tio Luizinho beija mamãe.
E lembro  o poeta: ”Nós, que vamos morrer,exigimos um milagre”.
Vulneráveis, tão mortais, e o mar nos espera.
O tempo de Deus não é o nosso, diz Miriam,
Cida faz um rosbife, Adélia borda, Terezinha prepara um piquenique,
Dorinha  convida para  o churrasco domingueiro,
Lourdes me dá um dinheirinho para a o cinema de domingo,
Ondina reza, Gracinha vai para o  convento
(quero abraçar todos os meus irmãos homens),
ah, tantos domingos
Cine São José, Cine Rox, Cine  Ritz,
empadinha  com guaraná-caçula
na  Gruta de Fátima.

Perdemos o endereço de  Deus.
Peregrino para achá-lo:
estaria escondido em Brusque?
Vou atrás: pensões, viagens, portos, trens,
Paris, Berlim, Belém.
 Estaria Ele escondido na Igreja São Francisco,
em  Salvador?
No meio daquele Barroco, não consigo não chorar.
Ando, vejo o mar, o Pelourinho,
lembro de todos os pés que ali pisaram,
escravos gemendo,
Getúlio dá um tiro no coração, Jânio renuncia,
Jango enxuga o rosto,
Golpe Militar– foram 21 anos de minha vida.
Um arco- íris, uma gaivota, o “Miramar”,
Colégio Catarinense, um poema, Segunda Época em Matemática,
Padre Werner me confessa e me pacifica.
Onde encontrarei  o  endereço?
Deus, Deus, Deus!
Estará no paletó que deixei na lavanderia?
 E espero – como se estivesse no SUS de todos os aflitos,
num  INSS  onde os peritos sempre  indeferem  os pedidos.
E escasseia  o tempo,
Breve encontraremos  algo – sim, encontraremos algo.
Deus, Deus, Deus:
sorrio,  pois  posso Contemplá-lo na Clarice –  engatinhando pela casa,
no  Lucas– sorrindo no berço,
é maio   na Ilha,  outubro em Brasília – e começam as chuvas,
em Salvador  contemplo  a estátua do poeta Castro Alves,
e    sempre  – o mar.
Célia sorri para mim – amor.
A luz que emana dessa manhã,  seguirá comigo – para sempre.
“Há um caminho por onde passo/e outro que passa por mim/
/Um anda por meus passos/e não tem fim.//O outro é onde meus passos/
perderam-se de mim.”
(Salvador, abril de 2011)           

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Homenagem a Maura de Senna Pereira

A TI, MAURA
A ti, poetisa e mulher,
dedico estes versos.
Ousaste amar e ser amada.
Ousaste enfrentar a mesquinharia
e te engrandeceste.
Tua terra te deixou à margem,
mas altaneira, jogaste a poeira
que queriam te cobrir, para o alto e foste em frente,
a desfolhar rosas
e a levar pedras para o teu templo.
O amor que encontraste foi o companheiro
até o fim quando o Destino te separou
dos beijos, dos abraços,
dos corpos suados na dança do amor...
Para ele os teus versos
e pra ti o encantamento dos versos dele.
Ambos, poesia e amor,
entrelaçados na sofreguidão,
no amparo, no carinho,
nas delícias das noites com amor e poesia...
Repousas agora no infinito ao lado dele
que não te esperou, foi antes de ti,
mas logo o seguiste para encontrá-lo no Além,
onde os amantes se aquecem na ternura,
no aconchego...
onde os versos fluem com serenidade,
com candura...
A ti, Maura, dedico estas palavras
e desvendando a palavra do teu nome
encontro o verbo AMAR !
Maura Soares, aos 28 de abril de 2011.
Homenagem à Patrona da cadeira n.33, da Academia Desterrense de Letras, Maura de Senna Pereira.

Ah, o Amor! Este sentimento a nos inspirar! Mais uma criação de hoje.

DESENCONTROS DE AMOR
Uma parte de mim quer que eu fique
Outra parte diz, vá embora
Uma parte de mim te ama demais
Outra parte diz, não te quero
Uma parte de mim se entrega
Outra parte grita, te afasta
Nesse desencontro de amor,
 na ciranda do tempo
levamos nossas vidas
com o tempo a nos cobrar alegrias
e também dissabores.
Quando dizes estou indo, há algo que nos afasta
Quando digo te amo demais
meu coração dói de tristeza.
Tantos beijos trocados,
tantos afagos sentidos,
tanto carinho nos corpos suados...
Uma parte de mim te anseia
e a outra parte diz:
já vou.
Aos 28 de abril de 2011, 14.10h

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Inspirado em Nietzsche,em Assim falava Zaratustra, o texto "Amigo", para pensar.

            AMIGO
            (Assim falava Zaratustra)

            O filósofo alemão Nietzsche(*), por vezes polêmico, analisou a seu modo a alma humana.
            Idealizou o super-homem, aquele que se constrói pelo espírito que se reflete em si para que possa atingir a sua plenitude.
            Sobre o amigo diz na voz de Zaratustra: “Se queres ter um amigo tens que lutar por ele”. “O amigo deve ser mestre na arte de adivinhar e de se calar”.
            Complemento que não se deve magoar o amigo com coisas bobas de uma sociedade hipócrita; não se deve impor na amizade as convenções ditadas por uma religião mesquinha que só visa a aparência.
            O amigo é aquele que está ao lado nas horas difíceis – pois é aí que o encontramos verdadeiramente. O amigo ajuda, sem interesse, sem precisar que o outro compre sua amizade com presentinhos diários.
            Amigo é aquele que conforta, que ampara, que não impede que a relação se concretize e se eternize.
            “Serás para teu amigo ar puro e solidão, pão e reconforto? Há quem não possa desatar suas próprias correntes, mas para o amigo se tornou um libertador. És escravo? Então não podes ser amigo.”
            Pode a mulher ser amiga do homem, sem que para isso tenha que explicar à sociedade que o outro é apenas amigo, que é apenas mais um irmão?
            Pode a mulher ficar acima das convenções, ajudando o amigo apenas com o objetivo de fazer que com sua amizade, o amigo aprende com ela a ser super-homem?
            Mas o homem às vezes não entende este sentido – do AMOR – daquele Amor que ama sem nome – do AMOR CRISTÃO.
             A sociedade também não aceita a amizade de homem para com homem quando ele está neste patamar acima citado. Sempre imaginam algo envolvendo sexo, pois a sociedade é corrupta, mesquinha, nojenta!
            E quando é o próprio amigo que imagina coisas absurdas e estraga a amizade por causa de sua imaturidade, quem sabe ditada por uma educação repressora, quem sabe ditada por uma covardia ao enfrentar o amor de uma pessoa sem o mínimo interesse que não o de estar junto, comungar ideias, levar adiante projetos pessoais ou não?
            Zaratustra diz: “A mulher ainda não é capaz de amizade. Mas dizei-me vós, homens, qual dentre vós é porventura capaz de amizade?”
            “Ah! Pobres homens! Quanta pobreza e avareza há em vossa alma! Por mais rico presente que possais dar a vosso amigo, estou pronto a oferecê-lo a meu inimigo sem me tornar mais pobre por isso.”
            “O companheirismo existe. Que a amizade possa nascer”.
            Mas que ela nasça entre dois seres diferentes geneticamente, sem imposições de uma sociedade hipócrita, sem que aquele que se diz amigo fique no seu mundo de imaturidade, de medo, de mentira, pois quem mente um pouco sequer à sua companheira de vida que tem um amigo do mesmo sexo que ela, está fadado a perder um dos dois, pois não soube preservar aquilo que Jesus ensinou: o Amor que ama sem nome – o Amor Cristão.
            Maura Soares, aos 20 de abril de 2011, 06.50h---Semana da Páscoa

terça-feira, 19 de abril de 2011

Emanuel Medeiros Vieira nos traz texto de reflexão sobre a Páscoa.


PÁSCOA

Emanuel Medeiros Vieira

Em memória dos meus pais.

Como observou Mauro Santayana, o Cristianismo é uma ideia que sai dos limites dos dogmas estabelecidos e ultrapassa o limite das igrejas que o adotam.
Ele está enraizado no coração dos homens.
Um dia, um repórter falou ao cineasta Federico Fellini (1920-1993), sobre o seu filme “Satiricon”:
“Sua obra é pré-cristã, pagã, mas nela percebe-se a presença do Cristianismo.”
E ele respondeu de bate-pronto:   “Tenho dois mil  anos  de Cristianismo.”
Quando digo que ele está “enraizado” no coração humano, não estou afirmando que todos os seres nele acreditam em suas crenças, mas que ele permanece no nosso inconsciente e no nosso imaginário, além de nossas convicções.
A Encarnação em Cristo, para muitos pensadores, é a assunção da grandeza do homem enquanto homem.
Ele sobrevive, porque é o sumo da consciência humana, o compromisso da vida consigo mesma.
O jovem Cristo, na interpretação de muitos humanistas, foi um dos muitos judeus daquele tempo que,  inquietos com a situação política de seu povo, procuraram uma saída para a liberdade.
A Palestina estava sob o domínio do Império Romano e era tempo de Tibério, representado ali por Pilatos.
Os homens têm necessidade de transcendência – somos pós e voltaremos ao pó –, e necessitam  de algo que ultrapasse as misérias do cotidiano.
Alienação? Não creio. Mas sim, a busca de inserção numa vida mais plena, generosa, menos individualista, que respeite o próximo, e que tenha sede de Justiça.
A Ele se atribui origem divina.
“Era necessária a reafirmação da antiga aliança, com a Encarnação, a renovação da promessa mediante um homem de carne e osso, enviado do Absoluto para pregar o amor – ou seja, a solidariedade essencial entre os homens como pressuposto de sua salvação.”
Cristo era um homem, como lembra Santayana, capaz de amar, de se irritar, como no episódio dos mercadores do templo.
Segundo o articulista, muitas igrejas tentam reduzir a condição humana de Cristo, ao exaltar a ideia de que Ele é o Unigênito de Deus.
Mas, na visão de alguns teólogos, Ele é tão maior e mais necessário quando se reconhece a sua condição humana.
Não, não se está reduzindo a sua condição de Absoluto, mas buscando que se aproxime ainda mais do coração humano.
Como alguém salientou, Ele é tanto mais o filho de Deus quanto é irmão e amigo de todos os homens.
“O irmão e amigo a que recorremos nos rincões de nossa alma, onde se recolhe o sofrimento,  porque n’Ele – que é parte de nós mesmos – podemos confessar as humilhações  sofridas, o nosso desespero, nossa desesperança do futuro, e contar com o seu consolo e perdão.”
Sim: consolo e perdão.
E em quantas situações da vida, não precisamos de consolo?
E em quantas, não pedimos para ser perdoados?
“Aquele que não poupou o próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não vos dará também com Ele todas as coisas?” (Rm, 8/32).
Sim, a Igreja cometeu erros desde Constantino.
Mas, hoje, quando celebramos a Páscoa (Ressurreição), não preciso falar sobre isso.
E como salientou o jornalista citado, neste momento também não quero lembrar que dirigentes de outras confissões religiosas que se dizem  cristãs explorem impiedosamente a credulidade pública, arrecadando bilhões  e construindo vastos impérios econômicos.
É Páscoa.
Repito: é Páscoa.
Que o sentimento de Ressurreição permanecesse em nossos corações: era a minha aspiração que eu desejava.
(Um anseio que vai do menino ao homem sessentão. E que seguirá comigo.)
Não tenho ilusões: os tempos são ásperos, de exploração, de matança, do império do tráfico,  um mundo no qual o homem vale pelo número do seu cartão de crédito.
Quer dizer: vale pelo que tem e não pelo que é.
Tempo de desagregação de um valor maior (a família).
Mas poderemos ser maiores que isso.
Nós podemos contar com Cristo em qualquer capelinha de estrada, em todos os corações que sofrem.
(Dedico este texto – além de Alfredo e Nenê, meus pais – a todos os amigos, ex-amigos, aos que padecem de enfermidades físicas e mentais, aos que aqui permanecem e àqueles que já partiram: não estão mais onde estamos, mas estarão sempre onde estivermos).
(Salvador, Semana da Páscoa – abril de 2011)

domingo, 17 de abril de 2011

...a magia definitivamente se fora....amores que chegam e que vão, na desilusão da felicidade. Alguns a encontram, pois dentro de si ela já existe. Outros, não. Nesta crônica, na inspiração da madrugada, sintam-se tocados,mas acreditem sempre no Amor, como eu.

PERDENDO A MAGIA

         Com o batom, ela escrevera no espelho do banheiro, antes do suicídio, o verso que resumia sua curta vida:
“É triste chorar quando se quer sorrir,
Esperar por quem não vem,
Rolar na cama sem poder dormir,
Tentar agradar sem conseguir.”
         Lembrava-se no momento ao escrever seu epitáfio, dos versos de um outro poeta, talvez desiludido como ela.
         Ali escrevera toda a sua angústia, todo o seu tormento de adolescente frustrada por um amor que pensava eterno e agora via não ser correspondido.
         Ali naqueles versos que as meninas de sua idade iriam ler ao chegarem, na manhã seguinte, ela desfilara toda a desilusão por um amor idealizado e não correspondido.
         Ali, naquelas palavras, o seu desespero.
         Perdeu a magia, ficou o desânimo, o desalento, a dor...
         Perdera a fé no amor, a fé nos homens que havia amado, perdera a esperança...
         Ali, com o batom que antes havia usado para seduzir, os versos marcando a sua infinita tristeza.
         Tantas promessas, tantas palavras, tantos telefonemas, tantos poemas escritos de um para outro e nada de concreto acontecera.
         Ela, na sua vida adolescente, que no seu entender, já vivera muito, aguardava o amor, o amor da promessa, o amor que, em vão, a deixara esperando, esperando...
         Soubera, naquela tarde, que ele havia se casado.
         Seu mundo desabara.
         Como?! E as promessas, e os beijos, e os sexos ardentes nos motéis quando ele vinha nos fins de semana, as escapadas antes de ela retornar da escola para casa?!
         Como isso havia acontecido?!
         Como, se ele sequer nesse tempo de relacionamento, havia mencionado nem que fosse de leve, o nome de outra?!
         Um bilhete havia selado o desencanto.
         Um bilhete, um simples bilhete com aquela letra apressada como um fugitivo antes de se libertar.
         Palavras que se perdiam no mais profundo de sua mente, a lhe marcar, que doiriam para sempre se ela não tivesse decidido por fim a tudo aquilo.
         Palavras, palavras, palavras...
         Doeram em seu coração, doeram em seus lábios que tantas vezes foram beijados... doeram na sua alma...
         Perdido o amor, perdida a magia...
         Partir, a solução.
         Partir para sempre, ir embora, não da cidade, mas da vida, da sua loucura, da sua insensatez...
         Na pia do banheiro, o batom.
         A magia havia se acabado.
         No vermelho, que simboliza o amor, todo o sofrimento.
         No espelho, a tela da vida.
         ...a magia definitivamente se fora.
        
         Maura Soares
         Aos 18 de abril de 2011, 03.15, madrugada de outono.

sábado, 16 de abril de 2011

Coloquei a foto da minha musa inspiradora e nada postei sobre ela. Então, abaixo, o meu poema favorito. Faço, com reverência, minhas as palavras dela.

MOTIVO

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
-- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
-- mais nada.
CECILIA MEIRELES
[in: Flor de poemas. 6.ed.Rio,1984]

Ei-la que surge, no meu Blog: Clarice Lispector. Natural de Tchetchelnik,Ucrânia, Russia, brasileira naturalizada.

Disse Clarice: "Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca."[in NICOLA,José de. Literatura brasileira, das origens aos nossos dias.Ed.Scipione, 7a.ed.]

ISSO É MUITA SABEDORIA

Quando fazemos tudo para que nos amem
e não conseguimos,
resta-nos um último recurso:
não fazer mais nada.
Por isso, digo, quando não obtivermos o amor,
o afeto ou a ternura que havíamos solicitado,
melhor será desistirmos e procurar mais adiante
os sentimentos que nos negaram.
Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce,
ou não, espontaneamente,
mas nunca por força de imposição.
Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;
outras vezes, nada damos
e o amor se rende aos nossos pés.
Os sentimentos são sempre uma surpresa.
Nunca foram uma caridade mendigada,
uma compaixão ou um favor concedido.
Quase sempre amamos a quem nos ama mal,
e desprezamos quem melhor nos quer.
Assim, repito, quando tivermos feito tudo
para conseguir um amor, e falhado,
resta-nos um só caminho...
o de mais nada fazer.
CLARICE LISPECTOR

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Chega com um texto inspirado em um ser passante, emoldurando este Blog. Adriana da Silva Moreira, forte, de personalidade, adiante do seu tempo. Benvinda, amiga.

FORMAS DE VIVER

Na forma humana, um trapo de gente caminha
pelas ruas, sem rumo e sem identidade.
De repente, em algum lugar, há alguém chorando
por sua ausência.
É como se tentasse ser outra pessoa para
se esquecer do passado...
Dificuldades, fome, desprezo, somando as
desilusões que todos temos
que ter para o crescimento espiritual.
Fraqueja, foge de seu mundo real, adquire
uma nova forma, uma diferente identidade,
talvez sofra menos lá fora
do que presa em seus pensamentos.
Em seu olhar não há nada; é vago.
Formas de se viver, equilíbrio e desequilíbrio.
Opções, escolhas em algum determinado ponto da vida.
Destrói-se uma casa e começa-se a construir outra.
Quem está sempre certo?
Todos nós temos o dever de arriscar, mudar,
fazer e desfazer,
amar e odiar, crescer, SER, se conhecer,
fazer coisas novas, diferentes.
Ter coragem, pois poucos  fazem valer.
Aprender com o belo e com o diferente olhar de beleza.
Ver além das aparências.
Ser quem se quer.
SER, naquele exato momento.
ADRIANA DA SILVA MOREIRA
26 de março de 2011

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Homem de múltiplos talentos, Plinio Marcos figura neste espaço. Ator, poeta, escritor, dramaturgo, soube ousar em seu tempo e deixou para a posteridade uma obra fantástica, inigualável.

O ATOR

PLINIO MARCOS

Por mais que as cruentas e inglórias
Batalhas do cotidiano
Tornem um homem duro ou cínico
O suficiente para fazê-lo indiferente
Às desgraças e alegrias coletivas,
Sempre haverá no seu coração,
Por minúsculo que seja,
Um recanto suave
Onde ele guarda ecos dos sons
De algum momento de amor já vivido.
Bendito seja
Quem souber dirigir-se
A esse homem
Que se deixou endurecer,
De forma a atingi-lo
No pequeno porém macio
Núcleo da sua sensibilidade.
E por aí despertá-lo,
Tirá-lo da apatia,
Essa grotesca
Forma de auto-destruição
A que por desencanto
Ou medo se sujeita.
E por aí inquietá-lo
E comovê-lo para
As lutas comuns da libertação.
O ator tem esse dom.
Ele tem o talento de atingir as pessoas
Nos pontos onde não existem defesas.
O ator, não o autor ou o diretor,
Tem esse dom.
Por isso o artista do teatro é o ator.
O público vai ao teatro por causa dele.
O autor e o diretor só são bons na medida
Em que dão margem a grandes interpretações.

Mas o ator deve se conscientizar
De que é um cristo da humanidade:
Seu talento é muito mais
Uma condenação do que uma dádiva.
Ele tem que saber que para ser
Um ator de verdade, vai ter que fazer
Mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios.
É preciso coragem,
Muita humildade e, sobretudo,
Um transbordamento de amor fraterno
Para abdicar da própria personalidade
Em favor de seus personagens,
Com a única intenção de fazer
A sociedade entender
Que o ser humano não tem
Instintos e sensibilidades padronizados,
Como pretendem os hipócritas
Com seus códigos de ética.
Amo o ator
Nas suas alucinantes variações de humor,
Nas suas crises de euforia ou depressão.
Amo o ator no desespero de sua insegurança,
Quando ele, como viajor solitário,
Sem a bússola da fé ou da ideologia,
É obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente
Procurando, no seu mais secreto íntimo,
Afinidades com as distorções de caráter
De seu personagem.
Amo o ator
Mais ainda quando,
Depois de tantos martírios,
Surge no palco com segurança,
Oferecendo seu corpo, sua voz,
Sua alma, sua sensibilidade
Para expor, sem nenhuma reserva,
Toda a fragilidade do ser humano
Reprimido, violentado.
Amo o ator por se emprestar inteiro
Para expor à platéia
Os aleijões da alma humana,
Com a única finalidade
De que o público
Se compreenda, se fortaleça
E caminhe no rumo
De um mundo melhor,
A ser construído
Pela harmonia e pelo amor.
Amo o ator
Consciente de que
A recompensa possível
Não é o dinheiro, nem o aplauso,
Mas a esperança de poder
Rir todos os risos
E chorar todos os prantos.
Amo o ator consciente de que,
No palco, cada palavra
E cada gesto são efêmeros,
Pois nada registra nem documenta
Sua grandeza.
Amo o ator e por ele amo o teatro.
Sei que é por ele que
O teatro é eterno
E jamais será superado
Por qualquer arte que
Se valha da técnica mecânica.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Mais um amigo a compor a galeria neste blog. Falo de Jorge Maciel, de Santos,SP, cantor, compositor, violonista. Sê bem vindo, Jorge!

E O CARTOLA PARTIU, de Jorge Maciel
Jorge canta com Guiomar Szabo
CD “Madrugada”

Chegou sua vez, Cartola amigo
do samba Brasil
As rosas não falam,
mas vi que choraram quando você partiu
Chegou sua vez
O céu está em festa
e o morro está triste
Nos resta a saudade
Nos resta seus sambas
sem seu violão
E hoje não só a Mangueira
chora sua morte
no sul ou no norte
O samba sentindo essa ausência doída
no meio de nós
e assim olhando do alto
seu Rio de Janeiro
fazendo orações
aos sambistas guerreiros
pra manter o seu samba no lugar

O amor acontece quando tem que acontecer. Carinho não se pede, se doa. A seguir.

CARINHO NÃO SE PEDE

Muitos homens tem a doce ilusão que ao pedir um carinho, esteja recebendo sinceridade.
Nas mais das vezes a mulher, se for a companheira, a esposa, a mulher, a dona de casa, lhe retribui para ficar livre do pedido. Não raras vezes ela está é preocupada com as tarefas que tem que desempenhar nas lidas domésticas.
Assim acontece com muitos casais,  sobretudo com aquelas relações já desgastadas pelo tempo de união. Há casais, no entanto, cujo carinho é diário embora o casamento esteja durando mais de 5 décadas. Já observei casais que são uns pombinhos até na terceira idade, pois o que os levou à união não foi a paixão e sim o Amor.
Amor, este sentimento divino que une os corações.
Amor, cantado em prosa e verso, é confundido com relação sexual, no dizer “vamos fazer amor”. Amor não se faz, Amor é, Amor se completa, Amor se conquista com o carinho, com a compreensão, com o perdão.
Principalmente com o perdão, se um deles erra. Há um ditado antigo que diz que quando um dos dois erra, o outro nunca é inocente.
Há que se rever este conceito. Muitas vezes o homem tem a expectativa de que a mulher não mude, que fique igual em sentimento como quando a conheceu. Mas todos mudam nas suas concepções, principalmente quando se segue a evolução do tempo.
Aquele fogo abrasador do início da relação dura, quando não muito, um ano e sete meses, já ouvi um especialista em relações amorosas falar. Procurei investigar e tive a constatação. Paixão, como se diz, dura pouco.
Depois, a paixão, na relação a dois, com o passar do tempo, dá lugar ao verdadeiro Amor, à compreensão, ao carinho, à ajuda mútua, a um querer compartilhar as tristezas, dividir a dor, unir o trabalho, juntar as alegrias, caminhar lado a lado olhando um para o outro e os dois numa mesma direção.
Carinho não se pede, diz o enunciado deste artigo que me vem de inspiração. Tenho presente este preceito que não se deve  mendigar amor. Quem quiser mendigar “amor” há casas e pessoas especialistas para satisfazer esta expectativa.
Nada como o dia a dia para inflamar um relacionamento.
A vida nas grandes cidades requer das pessoas a paciência, a calma, mas é coisa um tanto difícil de o homem ou a mulher que tem que enfrentar um trânsito confuso, chefes de mau-humor, intempéries, enfim, uma gama de fatores que só com muita, muita paciência mesmo, o individuo chega ao final do dia agradecendo a Deus pelo trabalho desenvolvido e o que mais deseja é chegar em casa, assistir um bom programa na TV ou ficar quieto ouvindo música, tendo o seu jantar e o carinho da pessoa amada.
Porém quando o homem chega em casa após um dia em que tudo pareceu ter dado errado, -  na sua concepção, claro - ,  chega e encontra a cara-metade com cara azeda e nem pergunta “como foi seu dia”, quando a expectativa era outra, o sentimento de frustração aflora e pode até acontecer uma discussão sem necessidade.
Aí é que o Amor é posto à prova. Aí é que reside o companheirismo, o afeto, o desejo de compartilhar.
Há uma frase que diz “eu não posso resolver o teu problema, mas quero ficar ao teu lado e chorar contigo”.
Esta é a verdadeira afeição. Cada qual tem o seu quinhão de cargas a suportar. Deus nunca dá uma carga maior pra ninguém, somente até o limite do suportável.
Que ninguém esbraveje, que todos até agradeçam as dificuldades, pois são através delas que o homem evolui se souber como tratá-las, se souber fazer a leitura de que se está recebendo um contratempo, esta dificuldade tem sua razão de ser.
A cada qual segundo suas obras, diz o preceito divino.
Ninguém pode culpar os outros de suas desditas. Nós somos responsáveis por tudo o que fazemos, desde o levantar da cama pela manhã até o findar do dia, quando as tarefas foram cumpridas, quando o individuo contribuiu de alguma forma para a sua elevação espiritual.
Ninguém deve mendigar amor, repito, isto se conquista em sendo bom, em sendo compreensivo, em sendo honesto, em sendo trabalhador, em não trair seu companheiro de trabalho, em ser fiel aos seus sentimentos para com a pessoa amada, em procurar através do estudo, da leitura de bons livros, o conhecimento intelectual na escalada da evolução.
Amor é isso, é dar e receber. Não se atiram pérolas aos porcos, pois eles não saberão o que fazer com elas. Não se deve dar somente coisas materiais aos seus filhos, aos seus esposos e esposas, pois se você não der um minuto de sua atenção até numa simples pergunta, tudo o que você deu de material cai por terra.
Amar é entender. Amar é, sobretudo, perdoar todas as faltas e, no passar do tempo fazer com que a pessoa amada se sinta rejuvenecida a cada dia com o seu carinho e a sua compreensão.
Amar o Amor. Esta é a Lei.
Maura Soares, aos 23 de fevereiro de 2011, 15.00h.