domingo, 3 de abril de 2011

         ERRANTE

            Estou cansado desta vida de errante.
            Vivi de Seca a Meca por longos anos, sem fincar raízes.
            Procurei em outros lugares o que não achava dentro de mim.
            Até que uns olhos cor de violeta me disseram “fica” e eu estou ficando sem pegar malas, passaportes...trens.
            Os olhos cor de violeta certa ocasião suplicaram “não posso ir contigo e morro se não te abraçar pela manhã”.
            Fui ficando, fui abraçando pela manhã, fui deixando a vida errante...
            Meu coração e minha privilegiada mente de escritor, de cronista dos mundos visitados, tal  qual Albert Camus em “Bodas em Tipasa”,  tentaram se soltar, mas desta vez parei, olhei fundo nos olhos cor de violeta e achei melhor, então, ficar e colocar meus pés definitivamente nesta terra abençoada que embora com os seus desmandos, suas corrupções, com tanta gente sem lar, sem escola, sem alimento, seu povo ainda pode baixar a cabeça em sinal de contrição e elevar os olhos aos céus em sinal de oração buscando, no azul do infinito, a paz tão sonhada sabendo que lá do alto sempre vem algo ou alguém em nosso auxílio, aliviando nossos temores, dando alento às nossas dores.
            E os olhos cor de violeta que, com seus abraços ternos me acarinham todas as manhãs, impediram-me de alçar voo e ficar onde não há guerra, onde a fome é saciada com a solidariedade, onde apesar de tudo o que o povo faz com a natureza, embora ela se rebele e envie suas catástrofes, apesar de tudo isso, ainda é um povo feliz.
            Então, fico, pois estou cansado de lutar comigo mesmo, procurando sempre lá fora o que não encontrava dentro de mim e achei, sim, finalmente achei a minha paz nas profundezas de uns olhos cor de violeta.
            Maura Soares
            Aos 02 de abril de 2011, 08.25h


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