sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Na despedida,sempre um sofre mais que o outro.Lágrimas rolam na face apaixonada.


UMA FURTIVA LÁGRIMA
                                              
Não olhaste fundo nos meus olhos,
senão terias visto uma furtiva lágrima
a rolar por tua partida.
A lágrima, sentida,
rolou silenciosamente como rolam
as que caem no peito apaixonado.
Partiste como partem os marinheiros para outros mares.
Aqui fiquei como em tantas vezes,
junto a outras mulheres no cais,
na despedida dos seus homens
e na espera dos seus retornos,
mas a furtiva lágrima era a da despedida total,
de um amor que se recusa a calar
e que ficará guardado no coração.
Partiste sem promessa de voltar.
Tens o teu porto seguro
e lá colocarás a âncora do teu navio.
Lá naquele cais, onde tantas vezes aportaste,
está a tua morada.
Eu aqui, sou nada, apenas mais um amor fugidio que,
embora tenha sido louco, alucinante,
restou apenas a dor daquela que poderia,
se quisesses,
ser tua eterna amada-amante.
Restou, no entanto, uma furtiva lágrima
e um grande sentimento de amor...
Aos 7 de junho de 2010, 07.00h

Usando como fonte a obra de Celso Martins, "Os Comunas- Álvaro Ventura e o PCB Catarinense", presto homenagem ao meu tio-avô. Foi deputado classista. Figura nos apontamentos de Lucas Boiteux, acervo do IHGSC.


Foto escaneada da capa da obra de Celso Martins, Os Comunas.
Impressionante a semelhança com o meu pai, João Auta Soares,
que também possuía habilidade em consertos de todas as espécies em casa.

ÁLVARO SOARES DA VENTURA – O COMUNISTA

por Maura Soares

Álvaro Soares da Ventura, ou Álvaro Ventura,  nasceu em setembro de 1893 e foi o sexto filho do casal Bernardino e Jesuína, num total de 12 filhos registrados, mas que pela tradição oral familiar teriam sido 21. Alguns morreram de tifo, outros de varíola. Quase todos foram marítimos ou estivadores.
Álvaro teve várias profissões, sempre usando a força de seus braços. Foi tropeiro, aprendeu a manejar laços, montar e a conduzir gado, tendo trabalhado levando mercadorias e gado pelas estradas catarinenses.
Depois de certo tempo foi para São Paulo. A vida era dura e Álvaro se integrou ao movimento anarquista, tendo aprendido diversos ofícios tais como carpinteiro, marceneiro, pedreiro, alfaiate, padeiro, encanador, latoeiro e  outros.
Estas habilidades aprendidas na prática, pode-se verificar em seus descendentes, pois seus sobrinhos-netos também têm propensões para eletricistas, encanadores etc. Seu sobrinho João Auta Soares, filho de Luiz – o Duca – tinha a habilidade com canivete em fazer pequenos entalhes em madeira, esculpindo figuras.
Como se vê, embora não tendo feito cursos específicos, o sentido do saber na prática passa de uma para outra geração.
Podemos dizer que dos SOARES DA VENTURA até a primeira década do século 20 e durante mais de 40 anos, Álvaro foi o único que se destacou nas lides político-partidárias, embora seu pai já tivesse encabeçado movimentos para a melhoria social.
Sua militância começou em 1914, em São Paulo, junto com anarquistas, mas já quatro anos antes liderava em Florianópolis.
Em 1910, em Florianópolis, Ventura teve envolvimento com a polícia. Seu discurso na Praça Fernando Machado reivindicando oito horas de trabalho, incomodou as autoridades e ele foi detido.
Com o advento da 1ª. Guerra Mundial começaram em 1917 e 1918 a pipocar greves em São Paulo e o movimento trabalhista invocava os lemas “abaixo a guerra” e “abaixo o derramamento de sangue”. Álvaro teve contato com os principais líderes, todos anarquistas ou socialistas pré-marxistas, como Edgard Leuenroth, Everardo Dias, Benjamin Mota, José Oiticica e Astrogildo Pereira.
Álvaro também teve participação em greves tais como a dos padeiros em São Paulo, tendo sido penalizado com sua deportação para Mato Grosso. Lá ele trabalhou numa fazenda da Companhia Mate-Laranjeira, que iniciava a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré.
Nessa época conheceu aquela com quem iria se casar. Eliza Arseno Espíndola era casada com um músico do Exército que estava desaparecido e ela o foi procurar onde Álvaro estava, em Mato Grosso. Eliza tinha duas filhas Nair e Aída. A história não conta se o músico foi encontrado ou não, só que Álvaro casou com Eliza no início dos anos 20, em Florianópolis e João, seu único filho com Álvaro, nasceu em 1926.
Sua vida foi marcada por encontros e desencontros com o partido comunista.
Rompido com os anarquistas, Álvaro acabou se filiando ao PRC (Partido Republicano Catarinense). Ventura teve participação destacada na campanha popular em favor de Hercílio Luz.
Assim disse Álvaro: “Foi um grupo de rapazes que atuou diretamente, como o Juca Melo, Artur Melo, Renato Moellmann, Mário Silva.Com ele se levantou a bandeira contra o Felipe Schmidt e Lauro Muller, a bandeira do Partido Republicano”. 
Em meados de 1922 Álvaro pertencia ao Sindicato de Estivadores de Florianópolis e era considerado um anarquista veterano.
Seu companheiro de luta, Edgard Leuenroth editava um periódico que era impresso em papel de seda para, caso a polícia detivesse algum companheiro, o texto seria engolido. Através de Álvaro o panfleto era distribuído na Ilha.
Álvaro teve envolvimento também na Revolução de 1930. Agitava o povo mesmo sem arma e de pés descalços. Com os movimentos iniciados no Rio Grande do Sul e cidades de Santa Catarina, subindo para outros estados, Getúlio Dornelles Vargas toma o poder.
Sempre dedicado ao trabalho mesmo tendo atividade paralela na política, Álvaro narra uma passagem de sua vida.
”Eu era católico e professava o catolicismo. Fui irmão da Irmandade do Senhor dos Passos, no Hospital de Caridade. Ajudava a fabricar caixão de defunto, consertar canos de água e outros serviços. Os senhores Brando e Faraco um dia ofereceram dois operários em troca do meu afastamento, porque era comunista. Mas as Irmãs disseram que não sabiam que eu era comunista, mas sabiam que o senhor Ventura servia bem. Se à meia-noite faltava água, o senhor Ventura ia consertar o cano.
Mas quando fui eleito deputado e fiz minha confissão de fé comunista, me expulsaram da Irmandade. Apesar disso eu continuei a lutar dentro do Partido contra o ateísmo, por entender que isso dificultava o povo a se aproximar do movimento revolucionário. Tinha muitas discussões com elementos do Partido, mas nunca se levava aos congressos, pois antes de tudo se evitava o conflito que pudesse culminar com a dissolução da organização.”(p.21)
Sua atuação no sindicalismo em Florianópolis foi muito dinâmica e o Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, com base regional, sempre foi o mais forte. Reivindicavam o salário-mínimo apresentando tabela de valores para pagar carpinteiro, marceneiro, torneiro, pintor, servente e canteiro. Os esforços deram, em parte, resultados positivos tendo o prefeito de Florianópolis, Durval Melquíades de Souza assinado a Resolução n. 57 que estendia o pagamento para guarda-jardins, empregados da limpeza pública, conservadores de rua e operários em geral.
Trabalhadores organizados em sindicatos sempre foram “uma pedra no sapato” do poder público, e em Florianópolis o caso não fugia à regra. Depois do Sindicato da Construção Civil, foi a vez da organização do Sindicato dos Padeiros que fizeram a sua primeira greve em 1931, tendo sido vitoriosa ao mudar o sistema de horas de trabalho.
Outras greves se sucederam a partir de 1934 com os sindicatos dos carroceiros; dos ferroviários e o dos trabalhadores em hotéis, restaurantes e congêneres. Com o sucesso nas reivindicações, muitos proprietários de restaurantes passaram a trabalhar com a tabela de pagamento do sindicato.
Em 1934 assumiu como Deputado Classista, uma cadeira na Câmara Federal de Deputados.
Álvaro era suplente de Antonio Pennaforte que havia sido eleito pelo Partido Operário Socialista de São Francisco do Sul. Antonio se envolveu em um triângulo amoroso com Odete, casada com Leonel Augusto de Azevedo, comerciante de secos e molhados. Odete incentivou o romance, mas em dado momento, não quis mais saber de Antonio e o denunciou à Polícia por assédio. Antonio compareceu ao Distrito Policial, deu seu testemunho e dali partiu para o estabelecimento comercial do marido de Odete, para tirar satisfações com a traidora, no seu entender. No auge da discussão Antonio, que estava armado, deu um tiro para o alto. Odete, apavorada com a situação, sacou o revolver colt do marido e desfechou cinco tiros em Pennaforte. A mulher foi presa e liberada com a alegação de legítima defesa.
Assim, Álvaro assumiu a cadeira.
Nove anos depois, em 1943, Álvaro foi indicado para a secretaria-geral do Partido Comunista Brasileiro, ficando até 1945, quando entregou o cargo para Luis Carlos Prestes.
Álvaro Ventura, retornando de seus trabalhos na Câmara Federal, teve contato com os principais líderes do movimento sindicalista em Florianópolis José Rodrigues da Fonseca, Antonio Vieira Machado e Octávio Britto.
De 15 a 18 de setembro de 1934, em Itajaí, foi realizado o I Congresso Proletário de Santa Catarina, dirigido por Leandro Machado. Álvaro foi um dos participantes e no encontro foram apresentadas 45 teses reivindicatórias de todos os principais municípios catarinenses.
Outros congressos se sucederam e o IV Congresso do PCB em 1954 foi tido como uma farsa. Não teve a presença de Luis Carlos Prestes. No geral, o congresso ratificou a linha que vinha sendo seguida desde 1948, reforçada com o Manifesto de Agosto de 1950.
O ano de 1954 marcou o suicídio de Vargas, pressionado por movimento que envolveu Carlos Lacerda.
O Partido engajou-se na campanha para a eleição de Juscelino Kubitschek, no pleito de 1955. Nessa época, com mais de 60 anos, Álvaro embora cansado da militância política, ainda mantinha acesa a chama da incredulidade ante a injustiça social.
Juscelino foi eleito, depois foi a vez de Jânio Quadros e finalmente, o golpe de 1964.
Eliza faleceu em 1969 e Álvaro mudou-se para a praia da Armação, em Florianópolis. Às vezes visitava a antiga sede do Sindicato da Estiva, no centro, que havia ajudado a construir. O terreno havia sido conseguido por seu irmão, João Bernardo, que era ligado à época ao governador Hercílio Pedro da Luz. Visitava a loja de sua enteada Aída e o marido Rubens Lira: “A Exposição”.
Por causa da idade, em 1975, Álvaro ficou de fora da Operação Barriga Verde em que 42 comunistas do estado foram presos.
Sua vida na praia da Armação era um tanto solitária. A visão já não o estava ajudando. A enteada Aída ia sempre visitá-lo, até que um dia, do ano de 1982, percebendo a fragilidade de Ventura, chamou o filho que o levou para Curitiba. O artista plástico Expedito Rocha, sabendo do problema de visão de Álvaro, mobilizou os companheiros e Álvaro foi enviado a Moscou para operação da catarata. Foi acompanhado pelos estudantes Rogério Figueiredo e Nildo José Martins que iriam estudar por seis meses no Instituto Lênin.
Na viagem, escolheu um lugar à janela para olhar o mundo lá de cima. Pensou em sua mãe, Jesuína, falecida em 1937, a qual não pode visitar no hospital por estar preso. Nereu Ramos, interventor no Estado, não permitiu que ele saísse da prisão para ver sua mãe que tanta preocupação tinha para com ele.Quando ela estava sendo velada é que veio a autorização para ele comparecer no sepultamento, que havia falecido com esclerose múltipla nas pernas. Disse:”Agora não quero. Preferia tê-la beijado viva”. Lembrou dos atritos que tinha com a esposa Eliza e da sua eterna preocupação que a militância política deixava, principalmente em Partido de esquerda que foi sempre perseguido pela situação de direita que existia no país.
João, o filho de Ventura, fez concurso para exator de rendas federais, passou, mas nunca foi chamado para exercer o cargo.Até que um dia resolveu ir a Brasília, cobrar do ministro. Bem no dia anterior ao golpe de 64.Resultado: com o sobrenome VENTURA, todas as portas foram-lhe fechadas. A perseguição foi ampliada para outros parentes de Álvaro, os quais no final da década de 30 e principalmente nos anos 40 foram levados a excluir este sobrenome, preferindo outros, como SOARES.
            No retorno ao Brasil, após a operação que foi bem sucedida, resolveu ir morar com o filho em Curitiba. Mais tarde ganhou um quarto na casa do neto Roberto Brumow Ventura, no bairro Cascatinha.
Mesmo não tendo sido elevado ao Hall da Fama, Álvaro recebeu homenagens em vida, com o reconhecimento de mais de 47 anos dedicados à militância política.
Desde o instante em que uma pessoa ingressa numa agremiação, seja ela política ou não, tem que seguir as normas. Assim também não foi diferente com Álvaro. Ciente do seu papel, homem de idéias firmes, sempre fez valer a sua palavra, desconfiando de quem se chegava a ele oferecendo parceria. Sabia que em troca queriam algo. Tinha por norma não citar nomes e nem se lembrar deles para, caso fosse preso, não denunciar, pela tortura, o nome dos companheiros. Embora tenha sido preso várias vezes, jamais delatou um companheiro, pois não sabia o nome de ninguém.
Álvaro esteve ao lado de grandes líderes sindicais e conheceu, na sua luta política, muitos homens públicos que passaram à história catarinense e brasileira. A lista é grande, citamos, no entanto, Aristiliano Ramos, Luiz Carlos Prestes, Hipólito Pereira, Plínio Salgado, Fulvio Aducci, Hercílio Pedro da Luz, Othon Gama d´Eça, Antonio Bottini, Carlos Sada, Mimo Ribeiro, Expedito Rocha, Sebastião Vieira, Durval Melquíades  e tantos e tantos que lutaram em prol de uma sociedade digna.
A luta continua nos dias atuais, pois na sociedade capitalista em que vivemos, sempre haverá patrões e empregados, opressores e oprimidos, mas aquele que não teme, luta contra as injustiças e até com a vida paga se preciso for, para dar às gerações futuras condições melhores de vida.
Embora Álvaro não tenha tido seu nome escrito nos livros da história oficial de seu estado natal, para nós, seus descendentes, ele deixou um exemplo de honestidade e fé inquebrantável na justiça.
No dia 10 de julho de 1989, aos 96 anos, deixando filho, netos e bisnetos, Álvaro deu adeus ao mundo que ele acreditava que um dia iria melhorar.

***
Texto de Maura Soares com bibliografia de apoio:
MARTINS, Celso. Os comunas – Álvaro Ventura e o PCB catarinense.Florianópolis: Paralelo 27; Fundação Franklin Cascaes, 1995.

sábado, 17 de setembro de 2011

Minha homenagem ao amado amigo poeta mineiro, que só hoje soube de seu passamento ocorrido em 28 de agosto de2010

UBIRAJARA DE MAGALHÃES BARBALHO
* 7 de janeiro de 1950- Governador Valadares,MG
+ 28 de agosto de 2010- Governador Valadares,MG

BIRA

Partiste e nem me disseste adeus.
Soube que aceitaste o fado que Deus colocou sobre ti.
Saudades sentirei de ti, meu mineiro querido.
Dos nossos papos ao telefone,
Dos emails trocados,
Dos teus poemas,
Dos teus contos.
Da homenagem que a mim fizeste
em forma de poema.
Saudades da tua bela letra nas cartas e bilhetes.
Saudades da tua bela voz,
do teu belo porte.
Partiste há um ano e só hoje soube.
Como se fosse hoje
tua partida me entristece
e choro lágrimas sentidas.
Querido poeta, sei que não devemos chorar
a morte dos poetas, pois dizem que foram
felizes com todas as mulheres belas.
Tu, não, meu querido, sentiste a mágoa no teu peito.
Sentiste a dor do amor
que tanto transparecia em teus versos.
Querido Bira,
amado Bira,
sei que tens que cumprir no outro lado a cura da matéria
que carregaste contigo,
mas um dia nos veremos
e poderemos rir de tudo isto, como ríamos ao telefone, lembra?
Beijos, meu querido,
por ora digo-te adeus,
pois "amigos não se despedem,
marcam um novo encontro".

Maura Soares, aos 17 de setembro de 2011, 22.25h

Mais um conto pra galera amiga curtir.


ENQUANTO ELA SE VESTIA...

Em frente a TV, assistindo o último programa de esporte da noite, Jairo esperava Judith para saírem e apreciarem um jantar e a Blues Band.
-Ju, já são 21.10. Temos horário até às 21.30 no Bistrô. Anda logo.
-Já vai, respondeu a Ju.
Jairo, atento aos gols da rodada foi ficando de olho na TV.
 Já tinha detonado duas latinhas de cerveja e não quis beber mais porque iria dirigir,mas a vontade era muita.
-Amor, anda logo. Depois das 21.30 o Belgrano vai fechar as portas, pois o jantar tem a Blues Band e eles não suportam gente chegando tarde, quando eles já estiverem no palco.
-Estou quase pronta, amor. Calma.
Jairo pensava – essa mulher pra se vestir é uma rainha. Nunca vi demorar tanto. Ainda bem que não é sempre, senão já teria acabado com essa história.
O relógio carrilhão bateu a meia hora após as 21. A pancada da meia hora tirou Jairo do sério. O programa da TV já havia terminado e ele já estava pronto desde as 20.30, logo uma hora antes da mulher.
-Judith, agora chega! O que estás fazendo de tão importante que não estás pronta?
Sem resposta.
Jairo levantou-se de onde estava, arrumou o nó da gravata e partiu em direção ao quarto disposto a dar uma bronca na mulher e se não estivesse pronta, iria sozinho jantar e assistir sua banda preferida de jazz.
Uma surpresa o esperava quando chegou à porta do quarto.
Judith estava pronta! Aleluia!!
Pronta!! Com um corpete vermelho, meias de seda preta, sapatos de salto alto, cabelos arrumados!
O ambiente do quarto, com um perfume embriagador, velas colocadas estrategicamente, numa penumbra de enlouquecer.
Jairo, à primeira vista, levou um choque.
Judith estava recostada em almofadas  na cama, com uma taça de champanhe na mão, tendo no criado-mudo um balde com a garrafa do espumante e uma taça já preparada para Jairo.
-Que tal jantarmos outra coisa esta noite, meu bem? disse com uma voz de gata manhosa.
Jairo não titubeou. Ante a imagem magnífica da mulher, foram para o chão o paletó, gravata e outros acessórios e ele mergulhou naquele universo feminino que só as mulheres conseguem organizar.
Às favas o bistrô, o Belgrano e a Blues Band. O que ele queria agora era mergulhar nos sedosos braços de Judith, acariciar seus cabelos e dar vazão ao seu êxtase.
Às favas com tudo!
Maura – 1o. de julho de 2009 – 9.15h manhã

Nas intempéries de 2010, fiz este poema.

Tudo isto na Ilha é aterro. O navio Hoepcke no cais Rita Maria.
É de se lamentar que esta paisagem desapareceu. Sinal dos tempos. Fazer o que?

VENTO QUE VEM

Vento como um furacão, destrói casas,
mas não o coração que,
com esperança, aguarda o amor para AMAR.
Este vento destruiu parte da Ilha, ruas,
veredas e muitas trilhas, ajudado pela maré alta
Batendo nas vidraças com fúria, pessoas assustadas com as águas,
ruas alagadas, trânsito parado, noite de terror
Casas nas encostas a deslizar,
levando pertences da população
O vento vem com remoinho levando tudo pelo caminho
Vem a madrugada e numa forte lufada leva mais coisas embora
deixando a mãe que chora a perda de seus haveres,
o filho pra cuidar, muitas bocas para alimentar
Com a força da maré o mar chega e destrói
Nas casas à beira da praia vem com tudo e corrói
abalando os alicerces
Um verdadeiro temporal deixando a cidade em polvorosa, choros,
tristezas o vento vem e vai
O dia amanhece
O vento acalma
A esperança cresce para aplacar a dor.
Aos 19 de maio de 2010, 6.55h manhã.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Certas pessoas quando entram na nossa vida, deixam marcas. A esta pessoa dedico o poema abaixo. Um dia ele vai ler.


ONDE ANDARÁ?

Onde, por Deus, andará aquele que, um dia,
fez vibrar com todas as forças as cordas do meu coração?
Procuro seu rosto no Facebook, no Orkut,
em outros sites e não o encontro.
Achei duas fotos antigas...
de formatura e de trabalho, integrando uma equipe...
Onde se encontra, não sei.
Não sei mais onde mora,
não sei se ainda chora,
nem sei se lembra de mim.
Onde andarão aqueles lábios
que tanto me beijaram?
Onde estarão aqueles braços
que por um longo tempo me abraçaram?
Em vão, procuro na lista telefônica, pela internet.
Ninguém me fala dele.
Não sei se está sozinho ou com outro alguém.
Preciso encontrá-lo e pedir desculpas.
Desculpas, pois foi involuntária a minha atitude.
Desculpas porque forças ocultas nos separaram.
Onde está aquela pele morena
que eu tanto gostava de acariciar?
Onde está aquela voz
que tanto gostava de escutar?
Tento fazer um poema para que, um dia,
eu possa pedir,
até com sofreguidão,
Perdão!
Perdão, amor, por termos nos separado.
Perdão, amor, por termos sofrido,
ambos tão longe um do outro.
Perdão, amor, perdão! 
Procuro-te pra te abraçar novamente,
pra te acariciar de novo,
mas não sei onde estás
Eu, no entanto,
ainda estou aqui
Sou aquela menina que te amava
Sou aquela menina que chorava
Sou, ainda, aquela menina!
Maura Soares, aos 19 de julho de 2011, 22h

Embora a Primavera não tenha chegado para nós, publico Primavera,da nossa poetisa amiga de além-mar,Carmo Vasconcelos.

   
SONETO À PRIMAVERA

 CARMO VASCONCELOS


PRIMAVERA

Desabrochadas, minhas rosas amarelas
São doce imagem de formosa alegoria,
A me lembrar noites banhadas de euforia
E de extasiados sonhos, rútilos de estrelas!

Ao despertar, pintam-me cor n’alvas manhãs
Em que, de longe, chegam rufos de tambores
A convidar à floração castos amores
De similares seivas, prístinas irmãs!

Porém se as toca a brisa, imploram-me água perto;
O marginar de um rio que afoito corra certo
A acarinhar a terra madre que o venera!

E mais segredam minhas rosas amarelas:
Que uma Divina inspiração se serviu delas
Pra consagrar, maravilhosa, a Primavera!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O poetamigo, António José Barradas Barroso, de Parede, Portugal, envia o poema "Evasão", numa forma de retribuir ao poema com o mesmo título da amiga Carmo Vasconcelos. Delícia de leitura. Apreciem, pois.

A Rosa na Janela.Foto batida pelo celular.
 Rosa recebida na homenagem prestada aos ex-presidentes da Associação dos Supervisores Escolares de Santa Catarina, durante o XXº Encontro Estadual da ASESC, dias 25 e 26 de agosto 2011. Presidi a ASESC  por dois mandatos 1989-90 e 1991-1992. A rosa vermelha, cor que exprime o amor, durou neste vasinho na janela do meu quarto, até dia 5 de setembro, quando suas pétalas murcharam de vez. Como sempre faço quando ganho rosas, três pétalas estão num livro. As desta rosa coloquei na obra "As montanhas de Buda", que um outro amado amigo me ofertou. 

Evasão

António Barroso (Tiago)

Oh! Mas que feliz hino a natureza,
Onde tudo é sossego, paz, amor,
E cada companheiro é uma flor
Com pétalas repletas de beleza.

Tua alma repousou numa certeza,
Que no verde do campo há mais calor,
Que tudo se aconchega ao teu redor,
E as mãos te acariciam com pureza.

Nos trinados das aves há promessas
Que farão tudo aquilo que tu peças,
P'ra que regresses, venhas novamente,

Que a vida, sem a tua companhia,
É musa que se esqueceu da poesia,
É um vento que sopra e não se sente.

Parede - Portugal


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Eis que surge neste blog mais uma poetisa que, com carinho, acolho. Efigênia Coutinho integra o grupo de novos amigos. É presidente-fundadora da AVSPE-Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores.Nasceu em Petrópolis, RJ;criou-se em São Paulo, residiu no Rio e em Florianópolis e atualmente está em Balneário Camboriú. Cidadã do mundo, pois, pois.Sê, tu, benvinda Efigênia.

Foto do Prosec Park, New York
Enviada por Efigênia

ROUXINOL

Efigênia Coutinho

Vou pelo caminho
Neste parque de linho,
Segue-me um Rouxinol
Cantando em bemol 

Em sua canção de paz,
Ele traduz uma alegria
Contagiante e assaz
Bendizendo harmonia!

Neste seu alegre canto,
Vai o rouxinol regendo
As notas do meu encanto,
Dos sonhos que vou vivendo!

No parque vou cantando
Do rouxinol a canção.
Ele vai me acompanhando
Feliz com a minha emoção!

sábado, 3 de setembro de 2011

Pois cá está de novo a nossa amiga portuguesa Carmo Vasconcelos,com seu "Evasão". Apreciem

    
Jardim Botânico, Curitiba, 2010.
Foto João Guilherme M.Soares


EVASÃO

Carmo Vasconcelos 

No silêncio e na paz da natureza,
de toda a sensação eu me desligo,
extasiando-me apenas na beleza
deste divino mundo onde me abrigo.

Mergulhada no verde onde me deito,
sou pedra, folha morta abandonada, 
e d’alma em evasão eu me deleito,
por ser no todo imenso um quase nada.

E é neste bem-estar doce em quietude,
que, saudosa, relembro a mansuetude
do sacrossanto lar primevo e antigo…

Basto-me do ar que sorvo e está comigo,
e qual erva que símplice brotou,
nada mais quero ou peço…  Apenas sou!

Lisboa/Portugal/Agosto/2011


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Este pequeno conto ficou sem finalização.Hoje ao procurar sobre conto e crônica, achei este texto inacabado. Aí está.

AS TELHAS
Desenho de Cacildo Silva- artista plástico e poeta
Membro do Grupo de Poetas Livres, Florianópolis,SC 

A tarefa diária do escravo era fazer o barro, amassado com seus pés e moldar as telhas para a casa do senhor. Embora não chicoteasse os servos que trabalhavam as telhas, ainda sim o trabalho era como se fosse. Penoso, como todo trabalho braçal que exige força.
Julião era o seu nome, dado pelo patrão. Não possuía sobrenome, mas era conhecido, como os outros, de Julião Santos, sobrenome do seu dono.
Pelo registro de sua compra,  Julião deveria estar com 45 anos, mas aparentava mais, pois o encurvamento de suas costas denunciava os anos de sofrimento, de trabalhos forçados primeiramente na lavoura e, após alcançar a maturidade, no fabrico das telhas.
A região onde se situava a fazenda do coronel Santos era pródiga do barro que dava boas telhas, vasos e outros ornamentos.
Julião estava na equipe das telhas.
As ferramentas para a  fabricação das telhas eram as mãos e as coxas dos escravos.
Assim que o dia amanhecia, sem nem lavar o rosto do sono profundo pelo cansaço, Julião achegava-se na porta da cozinha para receber a ração diária que, para pessoas normais que fazem trabalho braçal, era ínfima. O patrão apostava na força de seus escravos. Embora fosse um homem que não castigava escravos no tronco, a comida que lhes dava era irrisória. Mesmo assim, Julião tinha forças para aguentar. Talvez o desejo de um dia ser livre o motivasse a receber toda a carga de trabalho e não se queixar, mas em seu íntimo, a esperança crescia a cada dia. Até lá, enquanto a alforria não chegava, Julião continuava a fazer as telhas.
Naquela manhã de abril, o calor ainda queimava a pele. Julião foi para a sua tarefa. Chegou ao local onde estava o barro a ser tirado, o capataz separou a sua cota e Julião foi para o seu canto trabalhar. Arregaçou a esfarrapada calça, colocando o barro na sua coxa e começou com suas habilidosas mãos a moldar a primeira telha do dia.
Até cerca de meio-dia, somente água os escravos recebiam. Era proibido conversarem. Somente olhares eram transmitidos entre si. Julião, em seu íntimo, cantava os cânticos de sua Mãe África. Lembrava-se do navio em que viera, com cinco anos, com sua mãe, seu pai e dois irmãos. Na fazenda nasceram mais dois. A mãe, além dos filhos, também tinha a incumbência de amamentar os filhos do patrão. Carlota ajudava a patroa nas lidas domésticas e, no final da tarde, olhava os filhos. Dura vida, dupla jornada e o sonho de ver seus filhos livres.
Enquanto a liberdade não acontecia, Julião sonhava fazendo as telhas. Após cada unidade, o objeto era colocado em uma forquilha para a secagem. O temperamento calmo do escravo possibilitava a contemplação do seu trabalho e ele gostava do que fazia, pois caprichava no acabamento. Ás vezes recebia crítica pela demora em cada telha e, de cabeça baixa, dizia que gostava do trabalho e procurava fazer bem feito. O capataz, após alguns dias de admoestação, deixou-o em paz. Já havia conversado com o coronel e este lhe havia dito que Julião era um bom escravo, que ele o deixasse sossegado, pois desempenhava um bom trabalho e suas telhas eram as mais bem feitas.
Julião sonhava, antevia um futuro melhor para si, Maria e dos pequenos. Não sabia que no Brasil um movimento abolicionista estava sendo preparado para que aqueles seres pudessem, enfim, ganhar suas liberdades.
A notícia final, da assinatura da Lei Áurea, caiu como uma bomba na fazenda do Coronel Santos. De há muito ouvia conversas aqui e ali, até que o fato se concretizou. Era um homem bom, mas era escravocrata, um ser pernicioso no olhar dos abolicionistas.
Finalmente aconteceu. Santos teve que libertar seus escravos.
- E agora? Estou livre, disse Julião, com a carta de alforria nas mãos. Abraçou Maria e as crianças.
Maria, porém, não sorria. Abraçou seu homem e ficou quieta.
- O que tens, Maria? Tantos anos para a liberdade e estás quieta?
        Maria, olhos marejados de lágrimas, disse:
        -Julião, como viveremos? Pelo menos tínhamos o que comer na casa do sinhô. Não temos nenhum casebre pra ficar, pois vivemos até agora na senzala. O pouco que vestimos o sinhô dava.  O que vamos comer, Julião? Não temos braça de terra pro plantio.
        - A gente arruma. Já ouvi dizer que agora a gente pode trabalhar e ganhar pelo trabalho.
        - Mas quem vai nos empregar, Julião?
        - Deus proverá, disse Julião.
        - Não tenho a fé que tens, marido.
        - Meu finado pai dizia que Deus quando fecha uma porta abre uma janela. Então, mulher, ora pros nossos orixás e vamos ter o que comer, o que vestir, onde dormir.
        Alguns dias após Julião haver recebido a carta de alforria, preparava-se para ir embora com a família.
        Na casa grande o patrão, desolado, estava em reunião com os filhos tentando resolver como ficaria a fazenda sem os escravos.
        Um dos filhos argumentou que o pai poderia contratar os escravos melhores e mandar embora os outros; assim o fabrico das telhas não sofreria continuidade.
        - Pai, o senhor pode ficar com o Julião e a família dele.Os meninos estão grandes e podem ajudar e até a Maria também. Além da família do Carlos, que são em cinco, do Ambrósio, que são em seis.Com quinze pessoas o senhor pode ir levando até conseguir trabalhadores mesmo pra aumentar a produção. Quando ao canavial havia muita gente à procura de emprego, gente branca que também estava precisando trabalhar pra se manter.
        E assim aconteceu. A fabricação das telhas continuou, agora num ritmo mais acelerado. Os empregados ganharam um pequeno terreno pra construir cada qual a sua maloca.
        O Senhor, ao cabo de 3 meses, viu sua produção aumentar, com pedidos de telhas, pois o povoado começava a crescer.
        Julião, com a telha nas coxas, olha para a mulher que também havia entrado no batente e sorri.
        - Não disse, Maria? Com Deus é assim. Ele não erra.

        Maura Soares, finalizado em 02 de setembro de 2011