segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

         MOFAS CO´A POMBA NA BALAIA (*)

Expressão antiga da Ilha de Santa Catarina, tem sua origem nas relações comerciais.
Conta-se que um vendedor ambulante da Ilha, um daqueles que penduravam seus cestos em varas e os levavam ao ombro para vender seus produtos ao redor do mercado público, colocou seus balaios e balaias ao chão e começou a apregoar suas mercadorias.
O homem, além de outros produtos, vendia ovos e pombos vivos para criação e/ou alimento.
Não cansava de apregoar seus produtos com a voz mais alta do que a dos concorrentes, que enchiam a orla do mercado, no tempo em que o mar batia na área em que se situa o prédio histórico (veja fotos da época no site da UFSC:www.ufsc.br).
Pois bem, tal falatório despertou a atenção de um manezinho de Canasvieiras que tinha vindo para a capital( o centro da Ilha era chamado pelos moradores de seu interior, de capital) e afim de comprar uma moringa e um alguidar que a mulher havia encomendado.
O mané acercou-se do vendedor fascinado pela eloqüência do mesmo.
Em dado momento, já com a moringa e o alguidar num saco de aniagem que havia trazido para levar sua mercadoria, resolveu comprar uns pombos para a mulher fritá-los, acompanhados de arroz ou pirão de nailo. Não tinha a intenção de criar, pois sabia que os bichinhos, embora dóceis no trato, se proliferavam e, ao final, viravam uma praga.
Restavam-lhe alguns trocados. Separou mentalmente o que seria para a condução de volta e o restante, se desse, iria comprar uns pombos.
Resolveu perguntar o preço, num momento em que o vendedor parou de falar para tomar fôlego.
- Ô, moço, quanto qui o sinhori tá vendendo as pombinha?
 Cinqüenta centavos cada uma. Veja que são pombos da melhor qualidade.
- 50 centavos?! Ara, qui cosa cara, seu! Pode baxar o preço? Daí eu levo pelo menos uma.
- Não posso, senhor. A minha mercadoria é ótima, não posso baratear.
O mané, visivelmente contrariado com a resposta do vendedor e frustrado por não ter dinheiro para comprar, segurou o saco com o alguidar e a moringa, virou as costas ao vendedor e disse:
- Intão, mofas co´a pomba na balaia.
(*) Maura Soares, in “Não intica co´a bucica – crônicas do falar ilhéu”, livro artesanal, inédito. Aos 03/02/2007 -  19:15 h – horário de verão


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