segunda-feira, 20 de junho de 2011

O mar sempre me inspira. Numa das minhas caminhadas o texto foi sendo construido e à tarde, concluido.




UM OLHAR ALÉM DA PAISAGEM

Tão absorto estava em seus pensamentos, que a exuberante paisagem marítima que estava à sua frente, não lhe chamava a atenção.
Naquele dia seu mundo havia desmoronado. Jamais poderia supor que o objeto de seu amor, aquele pelo qual havia dedicado 10 anos de sua vida, havia ido embora.
O mar no seu vai e vem, meio que o adormeceu. Saiu do carro e resolveu sentar-se na areia úmida. Seu olhar dirigiu-se ao infinito, mas a beleza da tarde com o pôr-do-sol após dias de intensa chuva como a lhe convidar, não o interessou de momento.
Apanhou um punhado de areia e  o fez escorrer entre os dedos.
Observando os grãos a se dissiparem no solo, ele refletiu sobre a efemeridade da vida. Tanta alegria, tantas horas deliciosas acabarem-se num piscar de olhos.
Não veria mais aqueles olhos fitos nele após a noite de amor. Será que era mesmo amor? questiona-se agora.
Quem ama não vai embora; quem ama não faz o ser amado sofrer.
Risos. Acorda de seu devaneio e observa crianças fazendo castelos de areia. Como é bom ser criança, sem preocupações, sem cuidados, só risos e festas, pensou.
Por um momento, um breve momento observa aquelas duas criaturinhas a molhar a areia para melhor fixar o castelo.
Um momento, só um breve momento. Logo seus pensamentos voltaram-se para a sua infinita tristeza.
Levantou-se, sacudiu a areia da roupa, tirou os sapatos e meias e resolveu caminhar descalço pela areia molhada. O frio da areia tirou-lhe da divagação.
Não soube precisar quanto tempo ficou a caminhar. Em dado momento, lembrou-se que teria que fazer o trajeto de volta até seu carro, mas não se importou, pois seria um bom exercício. Talvez só assim ficasse com o corpo dolorido e não se preocuparia tanto.
A tarde descia. O sol avermelhado já mostrava seus raios no horizonte.
No retorno chegou ao carro, sacudiu a areia e entrou no veículo para a viagem de regresso ao lar que não mais existia.
Deu um último olhar para o oceano e se deu conta que o belo dia estava terminando, mas que ele, atento só ao seu sofrimento, havia olhado somente além da paisagem.

Maura Soares
17 de outubro de 2008, 14.50h, horário de Brasília
foto de minha autoria

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