Levei alguns livros para ler naquele carnaval de 2010, pois há muito deixei de participar deste tipo de festejo e, dentre eles, "Los versos del Capitán", de Pablo Neruda, que adquiri em 25 de outubro de 2008, quando conheci Santiago do Chile e as casas de Neruda, "La chascona", título deste blog que tem o poeta citado como Patrono. Então, lendo os versos, ocorreu-me algumas releituras. Podem não ser o supra-sumo das poesias, mas foi a inspiração em cada leitura que me motivou. Apreciem. Agradeço,desde já.
EL ALFARERO
(O Oleiro)
“Juntos somos completos, como un solo rio, como
una sola arena”
Na argila moldo teu corpo,
teu rosto
Minhas mãos deslizam sobre a massa
que vai esculpindo dando-te braços,
tuas formas
teu peito
tuas pernas,
tua cintura,
teu sexo...
tudo acaricio na
tentativa de perpetuar tua figura
para quando partires,
eu possa contemplá-la
e não sentir saudade
Sei que mais do que a argila
preciso de ti perto de mim,
pois
“juntos somos
completos como um rio
ou como uma argila a moldar”.
Balneário Camboriú, 13 de fevereiro de 2010, 16.31h
8 DE SETIEMBRE
“Hoy nuestros cuerpos
se
hicieron extensos,
crecieron hasta el límite
del mundo
y rodaron fundiéndose
en una sola gota
de cera o meteoro”.
Quando, em êxtase,
nossos corpos se
fundem
e a volúpia alcança os astros
O entrelaçamento de braços e pernas,
no instante do
prazer,
deixa-me enlouquecida
e sinto que na união
dos nossos corpos
somos como uma “só gota de cera ou meteoro”.
Balneário Camboriú, 13 de fevereiro de 2010, 16.41h
EL INSECTO
“De tus caderas a tus
pies
quiero hacer um largo viaje.
Soy más pequeño que um insecto”.
Quero explorar teu corpo
com um inseto à procura de alimento.
Percorro teu corpo e ao chegar a teus pés
conheço toda a magnitude,
toda a beleza que a
natureza criou.
Sinto-me pequenina,
queria me aninhar em teus braços
fazer do teu colo minha morada,
poder sugar tua boca numa ânsia voraz.
Quero deslizar pelas tuas pernas,
deter-me na fonte do prazer
e queimar-me numa vasilha escaldante.
Balneário Camboriú, 13 de fevereiro de 2010, 16.59h
LA PREGUNTA
“Amor mio,
compréndeme,
te quiero toda,
de ojos
a pies, a uñas,
por
dentro,
toda la
claridad,
la que guardabas”.
Assim te desejo desde que te vi,
desde que tua voz
ecoou em meus ouvidos,
desde que tua boca cantou aquela canção.
Te desejo como a lua
que anuncia o início da noite
e banha os corpos desnudos dos enamorados.
Quero teu peito, tua boca, teu sexo,
toda a claridade que possas me dar,
todo o prazer que possas me fazer sentir,
meu amor.
Balneário Camboriú, 13 de fevereiro de 2010, 17.22h
SI TÚ ME OLVIDAS
“Ahora bien,
si poco a poco dejas de
quererme
dejaré de quererte
poco a
poco”.
Se por acaso tudo o que fiz por ti e para ti
não foi suficiente
Se todas as horas em que me entreguei
foram como grãos de areia
no mar dos teus carinhos
Se não desejas mais tocar-me
se não sentes mais falta de mim
quando estamos separados
Se pouco a pouco a chama da nossa paixão
está se apagando
se estás deixando de me querer...
com o tempo, amor, meu desejo por ti
também fenecerá
sentirei um enorme vazio, por certo,
mas no desejo, se um não quer mais,
fatalmente virá a separação
Chorarei, tenha a certeza,
mas o tempo me ajudará
a procurar outras bocas
e tentar apagar as marcas do amor
que deixaste em mim.
Balneário Camboriú, 13 de fevereiro de 2010, 17.29h
EX-AMOR
(este não é releitura de Neruda, fica na sequência, pois foi
escrito na mesma época )
Coitado de ti meu ex-amor
atravessando insone
as madrugadas
nas serestas no desejo inconstante
de uma nova conquista
Não encontras mais quem te queira
desprezaste muitos amores
com tua leviandade
agora, rogas carinho, atenção
e não obténs
Ainda lembro dos nossos abraços,
dos nossos beijos
dos momentos em que sempre
era eu quem mais amava
Procuro em outros amores
o teu olhar e não encontro
Desejo ouvir tua voz,
mas somente um tímido
som se apresenta
Anseio por tua volta,
mas sei que o retorno é impossível,
pois atravessas outras eras
cantas no anseio
de outras quimeras
E a vida segue
por outros caminhos
tu com teu canto
eu com a saudade
ambos pela vida
ambos sozinhos
Balneário Camboriú, 14 de fevereiro de 2010, 01.37-madrugada
- verão
Continua a releitura
de Neruda...
EL OLVIDO
“Quédate en el camino.
Ha llegado la noche
para ti.
Tal vez de madrugada
nos veremos de nuevo.
Ay gran amor, pequeña amada!”
Aguardo com ansiedade
tua volta.
Bem sei que em outros
braços
também tens que
estar.
Minha boca deseja tua
boca,
meus braços precisam
dos teus,
minha cabeça precisa
repousar em teu peito.
Quando juntos estamos
nos completamos.
Tens a noite com a
tua música
e delas precisas para
sobreviver
Eu conto apenas como
um complemento
em tua vida.
Não faz mal,
pois sei que quando
estás comigo,
só comigo te
importas.
É chegada a hora.
A noite já começa.
Espero por ti, amor,
sei que nos veremos
de madrugada.
Balneário Camboriú, 15 de fevereiro de 2010, 13.20h, verão
Outro poema releitura de Neruda...
IMPOSSÍVEL
“Amor, cuando te digan
que te olvidé, y aun cuando
sea yo quien lo dice,
cuando yo te lo diga,
no me creas,
quién y cómo podrían
cortarte de mi pecho
y quién recibiría
mi sangre
cuando hacia ti me fuera
desangrando?”
Mesmo que eu diga vou
embora em busca de outro amor, pois o nosso é impossível, não acredita.
É mentira pura.
Desde que te vi, me
apaixonei.
A vibração
que emanava de ti, meu companheiro do tempo, encheu-me a alma.
Tanto tempo sozinha
fiquei e quando finalmente desperto para o amor, ele é impossível.
É de outra teu
coração, bem sei.
Poderás, sim, nutrir
um afeto por mim, mas não amor.
Disso tenho
consciência, embora lá no fundo do meu ser, não aceite.
Ah, seresteiro,
cantas para outras, não para mim.
Quando me dedicarás
teus versos?
Será isso impossível,
também?
Balneário Camboriú, 15 de fevereiro de 2010, 15.15h verão
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