sexta-feira, 10 de maio de 2013

A MÃE


                                            Estatueta da Madona, em argila : trabalho de Leuzi Soares
A MÃE

Sete horas da manhã e Maria,religiosamente, levantou-se para preparar o café pro marido que, mesmo sendo domingo, iria trabalhar. Era vigia em uma obra, numa das múltiplas construções da cidade.
Não tinha ouvido José Luiz chegar em casa como costumeiramente fazia, de madrugada. Já não ligava mais, pois o rapaz, cheio de razão, achava-se um homem e sequer ouvia seus conselhos e o do pai.
Preparou o café, o marido comeu. Maria entregou-lhe a marmita com o almoço,pois no domingo ele trabalharia até às 18 horas, quando seria rendido por outro.
Tomou seu café após a saída do marido e lembrou-se que havia deixado roupa de molho (gostava que as camisas que o marido usava ficassem bem branquinhas) e apressou-se em dar enxaguada e colocar no varal para secar, aproveitando o belo dia de maio, ensolarado e com temperatura agradável.
Nem cogitou em ver se o filho estava dormindo ou não, pois o quarto era do outro lado da casa, sem comunicação com a sala e o quarto dela.
Fez as tarefas que tinha que fazer, pois Maria estava acostumada ao trabalho e ficava ansiosa se não estivesse mexendo em algo: ora a lavação de roupa, ora a arrumação da casa, ora a costura, ora a renda de bilro. Novela? Não ligava, gostava mais de ler aqueles romances açucarados que o marido trazia pra ela da biblioteca do município.
Ali, naquelas páginas, vivia aquela vida glamorosa que tanto sonhara, mas o Destino pensara diferente, dando-lhe mais dor que amor.
Não que se queixasse do marido, pelo contrário. Amava-o a seu modo. Era um homem correto, trabalhador, sem vícios. Gostava da cerveja no dia de folga, um futebol pela TV, um joguinho de dominó. E só. Conversas com Maria,bem pouca. Ela então, quando podia, chegava ao muro para conversar com Carlota, a vizinha viúva que sabia do que se passava no bairro.Ultimamente, porém, nem isso a interessava mais.
A sua preocupação maior era o  Zé. Já havia perdido o filho mais velho e a mágoa ainda estava gravada em seu coração. Não suportaria outra perda.
Maria foi tratar do almoço, pois para ela e o filho fazia comida na hora e como gostava de macarrão com galinha caipira, naquele domingo resolveu fazer.
Na cozinha distraída com a preparação do almoço, rádio ligado em músicas sertanejas, passou a manhã.
Perto de meio-dia arrumou a mesa.
Dirigiu-se ao quarto do filho. Bateu. Ninguém respondeu.Maria bateu novamente. Nada.Chamou pelo nome. Nada. Resolveu abrir a porta.
A cama estava arrumada, sinal que Zé não dormira em casa.
Bateram à porta. Correu para abrir.
Um oficial da polícia veio pedir para ela acompanhá-lo.
Por que?
Ele disse: Seu filho. Venha.
Naquele domingo, era Dia das Mães.

Maura Soares, aos 10 de maio de 2013, 20.15h      

Nenhum comentário:

Postar um comentário