segunda-feira, 28 de março de 2011

A DAMA DO ARMAÇÃO
- Um pequeno ensaio sobre Zeula Soares, no dia do seu aniversário –

            30 de março marca o aniversário desta ariana de boa cepa, Zeula Soares.
            Minha talentosa irmã tem ao seu redor, neste dia, o carinho de toda a família.
            Sempre a vi rodeada de livros. Seu jeito de fazer poesia é único, tanto que a Oração do Poeta de sua autoria, foi oficializada  através de Portaria do Grupo de Poetas Livres,(do qual participa), como Oração Oficial e é invocada em todas as reuniões administrativas.
            Atriz de teatro, excursionou também pelo cinema em curtas-metragens e em comerciais para TV.
            No teatro ela granjeou diversos prêmios. O produtor Valdir Dutra instituiu o Troféu Bastidores, evento do qual fiz durante 15 anos, de 1978 a 1992, o cerimonial tendo por local o Teatro Álvaro de Carvalho, que premiava os melhores do teatro em Florianópolis. Somente em um ano foi no acanhado auditório da Biblioteca Pública do Estado, devido a reformas no TAC.
            Segunda na linha dos 10 filhos de João Auta Soares e Odete Machado Soares, desde cedo Zeula revelou-se com  pendores artísticos: sabe desenhar, até sua letra na escrita é uniforme. Em tudo ela coloca sua arte. Se eu quisesse que um pacote de presentes ficasse bonito, a ela entregava e o resultado era e é maravilhoso.
            No Natal sua casa ganha belos enfeites, num conjunto harmonioso.
            Suas sobrinhas Sofia e Elisa e o sobrinho Paulo Henrique herdaram da tia Zeula o dom para o desenho. Casquinhas de ovos na Páscoa eram cuidadosamente pintados por ela, esmerando-se em coelhinhos, patinhos e outros pequenos animais, dando vontade de descobrir o que cada ovinho continha.
            Já tem sua descendente no teatro:  a sobrinha Marina que é graduanda em Artes Cênicas. Breve teremos mais uma atriz na família.
            Se a incentivarem ela também canta com sua voz de contralto. Tem em Julio Iglesias, seu ídolo e, no Brasil, sempre foi apreciadora de Roberto Carlos (com Erasmo, claro).
            Além de tudo isto, ainda foi uma das “mães” para o meu filho, fato que só posso dizer “obrigada, mana!”
            Não posso deixar de, nesta homenagem contar  um pouco do currículo artístico desta minha irmã. Pra não ficar na rasgação de seda, apresento detalhes de sua biografia.
            Zeula é formada em Filosofia e Serviço Social,  mas foi no teatro que ela ganhou notoriedade.     
            Quando estudava na Faculdade de Filosofia uniu-se ao TUSC-Teatro Universitário Catarinense e participou da peça “O macaco da vizinha”, de  Joaquim Manoel de Macedo, sob a direção de Odilia Carreirão Ortiga. Sempre procurei assistir seus trabalhos. Daí em diante, não mais parou com suas atuações; para muitos, amadora, mas que ela sempre a encarou com profissionalismo.
            Sob a batuta de bons diretores, Oraci Gemba, Jason Cesar, Antonio Cunha, Odilia Carreirão Ortiga, Paulo Roberto Rocha, Waldir Brazil..... Zeula desempenhou ótimos papéis.
            Entre os anos 64 e 68, Zeula com os atores Édio Nunes, Ademir Rosa, Ney Luiz Gonçalves, Fernando Pereira, Edelmira Rodrigues, Fernando Luiz Andrade, participaram, pelo SESC, de “O genro de muitas sogras”, de Aluizio Azevedo.
            Depois, ainda pelo SESC, temos no seu curriculo “O santo e a porca”, de Ariano Suassuna; Inconfidência Mineira – teatro poesia extraído de Romanceiro da Inconfidência, de Cecilia Meireles e, no centenário de Martins Pena, uma colagem de seus textos levados à cena na Sociedade Oratória Estreitense, no bairro Estreito. Nestes dois últimos, tive participação também como atriz. 
            Com os alunos internos do Colégio Catarinense eu também participei, fazendo o papel de Nossa Senhora, na peça “O auto da Compadecida”, sob direção de Odilia Carreirão Ortiga.
            Parêntesis: a partir daqui saí de cena, como Greta Garbo, não tem?
            Em 1969, agora pelo SESI, também com  Odilia na direção, “O Santo Inquérito”, de Dias Gomes, atuou e a peça participou do Festival de Teatro na Fazenda Arcozelo, de Paschoal Carlos Magno.
            O teatro em Florianópolis ressurge com a fundação de grupos, nos anos 70, devidamente formados com diretoria, estatuto e elenco.
            Como este simples ensaio que faço para homenagear minha irmã, só posso falar do Armação, pois participei dele.
            O Grupo  foi fundado em 1975 por Édio Nunes, Zeula Soares, Ademir Rosa, José Carlos Ramos, dentre outros. Pertenci ao Armação durante 13 anos, nos bastidores, enviando matérias para os jornais a respeito das peças, mantendo correspondências em dia, na contra-regra, essas coisas.
            Em 1974-75, já oficializado como Grupo Armação, cito “Está lá fora um inspetor”, de J. B. Priestley, sucesso levado à cena no Teatro Álvaro de Carvalho.
            Utilizo, como fonte de dados,  um artigo que fiz para um Congresso do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, intitulado “O teatro em Florianópolis a partir dos anos 70”, em que fiz um resumo dos grupos teatrais da capital, porém me ative apenas a citar as peças apresentadas pelo Armação dos anos 70 a 2002.
            Obtive ajuda de Édio Nunes para citar as peças em que Zeula participou: “Caminho de volta”, de Consuelo de Castro; “Um grito parado no ar”, de Guarnieri (melhor atriz,78); “Eles não usam Black-tie”, de Guarnieri (melhor atriz,79); “A Resistência”, de Maria Adelaide Amaral(melhor atriz,81); “Oração para um pé-de-chinelo”(2 montagens distintas em 80 e 81); “Zumbi”, de Guarnieri(melhor atriz,82); “Folias do coração”, de Geraldo Carneiro; “Gota d´água”,de Paulo Pontes e Chico Buarque(melhor atriz,85); “O Inspetor Geral, de Nicolai Gogol; “Ária da Capo”, de Edna Saint Vincent Milley(leitura dramática);“Os órfãos de Jânio”,de Millôr Fernandes(88-89-90); “Quem casa quer casa”, de Martins Pena(melhor atriz,90); “PT-11 anos”, de Chico Veríssimo; “Última Instância”, de Carlos Queiroz Telles; “Flores de Inverno”, de Antônio Cunha(92); “As quatro estações”, de Antônio Cunha; “Sorrisos meio sacanas”, crônicas de Sérgio da Costa Ramos, com adaptação teatral de Chico Veríssimo(2001); “Contestado, a Guerra do Dragão de Fogo Contra o Exército Encantado”, de Antônio Cunha; “Sonho de uma noite de velório”, de Odir Ramos da Costa.
            Cito também peças do Armação que estão também no artigo que publiquei na Revista do IHGSC (n.16, 3ª.fase,1997), em que trato do Troféu Bastidores(citado).  Tive o prazer de ver minha irmã subir ao palco do TAC muitas vezes para receber seu troféu.
            Zeula recebeu, portanto, o Troféu Bastidores nos anos 78, 79, 81, 82, 85, 90 e mais recentemente, em 2009, o Troféu em sua homenagem no Festival Floripa de Teatro Isnard Azevedo, evento promovido pela Fundação Franklin Cascaes.
            Também recebeu pela Câmara Municipal em conjunto com a citada Fundação, um troféu pelo seu trabalho no teatro catarinense, evento idealizado e organizado por Ney Luiz Gonçalves.
            Assim, o Armação montou, sem citar a ordem cronológica: “Clitemnestra Vive”; “Papa Highirte”; “Tchekov”; “O dia do javali”; e muitos outros trabalhos citados com a participação da nossa atriz ao longo desses mais de 40 anos de luta em prol das artes cênicas em Florianópolis.
            Além de atriz, Zeula foi Presidente do Grupo Armação e também excursionou pela direção com texto de sua autoria “Cala a boca já morreu”, peça infantil baseada em livro de Ruth Rocha, “O reizinho mandão”.
            Dirigiu com Rogério Hildebrand “Natal de portas abertas”, autor desconhecido.
            Atriz, diretora, talentosa para o desenho e, também, poetisa e contista.
            Pertence ao Grupo de Poetas Livres e ali dirigiu “Balada dos Já-com-terra”, poema de Júlio de Queiroz e “Poesia, Luz & Som”(criação coletiva), “A utilidade da utopia”, 1ª. fase, com poetas do Grupo e atores convidados.
            Quando atuávamos – eu e ela – na Associação de Amigos da Biblioteca Barreiros Filho, Zeula dirigiu “Arte em quatro momentos”; “Arte e folclore”; “Natureza mulher”; “João, o Poeta da Dor (e do Amor)”, poesia e prosa de Cruz e Sousa(esta apresentada em sessão solene no Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, por ocasião do centenário de nascimento do poeta; e “No balanço do mar”.
            Como diretora foi premiada no Festival de Teatro Relâmpago do Café Matisse.
            Ilustro esta digressão com um poema de Zeula publicado nas Revistas Ventos do Sul, do Grupo de Poetas Livres n. 11(abril-junho de 2001) e n.33(julho-dezembro de 2009—nesta RVS na homenagem que fiz “A família da dama do teatro”).
            PALCO
            Emoções exaltam-se
            no peito.
            Personagens
            tomam forma,
            criam vida.
            No palco, a ilusão vivida
            é verdade contida
            dentro do ser atriz.
            Sonhos misturam-se
            com a realidade,
            sentimentos fortalecem
            a “verdade-mentira”
            no palco interpretada.
            Há muita sinceridade
            em cada fantasia criada.
            Universo de vidas
            expostas em
            histórias sem par.
            Emoções à tona,
            cortinas abertas,
            luzes acesas,
            eis-me no palco.
            Sou uma atriz.
            Zeula Soares


            Encomendei ao meu filho, João Guilherme, que escrevesse algo para ela em homenagem ao seu aniversário, e o resultado coloco a seguir.

Quimera
        À Tia ZEULA

lá estava ela naquela imensa
escuridão lancinante,
pronta para atacar a presa.
eu, e todo o resto completamente
inertes à sua presença
espectral.
uma segunda espinha dorsal,
era o que ela precisava pois não
tinha como tantas bestas,
habitarem apenas um corpo.
do breu, ela rugiu e esquecemos
da vida, do sol, do mar, de tudo
que é triste.
suas palavras flutuavam no ar
como um veneno doce e nos
contagiava.
e quando sua presença não era mais
necessária,
as cortinas baixavam e
aplaudíamos como se não
houvesse amanhã.
(João Guilherme Machado Soares, Curitiba, PR, aos 28 de março de 2011)

Um beijo no coração, irmã, por tudo o que fizeste e ainda fazes pelo teatro, pois é em tua casa que o Armação se reúne para leituras de peças, reuniões ordinárias ou para simples bate-papo.
Obrigada pelo carinho à família, por tua preocupação com os teus, por tudo o que és.
Neste teu aniversário, recebe o meu carinho, de todos os irmãos,  sobrinhos, cunhadas e de teus amigos, atores ou não.
Maura Soares, aos 27-28 de março de 2011.
(sempre cito a hora em que termino meus textos, mas este mexi muito e nem sei mais que horas são).

           
                       
           

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