sábado, 26 de fevereiro de 2011

Mais um amigo comparece com seu trabalho neste meu espaço que, como uma boa mãe, acolhe aqueles que fazem da literatura o modo de expressar-se. Falo do poeta catarinense Emanuel Medeiros Vieira, amigo do coração.

LEMBRANDO ANTIGOS PROFESSORES
(Ensinamentos para se enfrentar a mediocridade reinante)
            EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
            Os poetas, como os cegos, enxergam na escuridão.
            Hoelderlin já  nos ensinava: “O que permanece, fundam-no os poetas.”
            Alphonsus de Guimaraens Filho escreveu: “Se não for pela poesia/como crer na eternidade?”
            Numa mensagem, meu amigo Ronaldo Cagiano, confessa: “Um minuto no túmulo de Balzac, uma tarde à beira do Sena ou um café n’A Brasileira, onde sentou Pessoa, me ensinam mais que todas as religiões e filosofias.”
            Kafka já dizia: tudo o que não é literatura me aborrece.
            Complementa Cagiano, o colega escritor: Não tenho medo de andar contra a corrente. A vida não é feita de adesões ao política, estética e culturalmente correto, mas ao que tem dimensão onírica, humana e solitária. E isso não dá votos, nem resenhas na Folha.”
            O mais difícil – nos tempos em que se confunde uniformidade com igualdade – é  permanecer fiel a si mesmo.
            Há uma espécie de robotização, de mediocrização,  em favor do gosto “médio”, para que não se veja além.
            Mesmo com recursos tecnológicos, as imagens que circulam, no geral, são veiculadas apenas para vender, e o lixo dominical da TV aberta é a prova maior do que se quer dar para o rebanho.
            É uma espécie de idiotização da mente.
            Mesmo sabendo que o ser humano, em sua maioria, tende para a mediocridade e para o conformismo, a banalização dos valores e da vida só não espanta as consciências mais resignadas.
            Insisto: é preciso ter disciplina, um projeto, e correr atrás dele, sem buscar álibis ou desculpas pelas dificuldades enfrentadas, evitando a auto-comiseração ou o fácil papel de vítima.
            Por- que se escreve?
            Porque – segundo Memo Giardinelli  – só a arte e a literatura podem redimir o gênero humano, com mais tendência à mediocridade que ao talento.
            Não tenho outro poder, senão o de buscar dizer a verdade diariamente naquilo que escrevo.

            Um professor humanista, no curso Clássico (e não tínhamos ainda 20 anos), já advertia, quando percebeu o meu interesse e de outros colegas pela literatura e pela arte:
            Não textualmente –  assim, não coloco aspas –, ele dizia o seguinte: Preparem-se. Sigam em frente. Mas não vai ser fácil. Quase tudo conspirará contra vocês. Os fundamentos da mediocridade e da defesa da existência leviana, vazia são muito fortes e estão enraizados na sociedade.
            Só querem que valha o que dá dinheiro.
            Mas não, nunca desistam. Alguns, antes dos 40, já terão vendido a sua alma. Não importa.
            Só os iluminados chegarão mais longe. Mas com a consciência que sempre haverá pedras no caminho.
            Vocês terão instantes tão belos e intensos, que eles compensarão  as mesquinharias, a inveja, a tendência de muitos de querer destruir aquilo que não conseguem para si mesmos. É a tendência de achar que dando cotoveladas no outro (naquele que se inveja), o invejoso se destacará.
            Ou, em outras palavras: não faço, mas não quero que ninguém faça.
            É a prevalência dos baixos instintos: inveja, ciúme, posse.
            Mas o iluminado é maior que isso.
            Quando penso nesse querido mestre, lembro-me das palavras de Carlos Castañeda:
“Sabemos que nada pode temperar tanto o espírito de um guerreiro quanto o desafio de lidar com pessoas intoleráveis em posições de poder.”
(Salvador, fevereiro de 2011)

Um comentário:

  1. Gostei de ler Emanuel Medeiros Vieira.
    Quantas verdades num texto bem estruturado!
    Parafraseando o Poeta: " Os poetas, como os cegos, enxergam na escuridão."
    Parabéns ao Poeta Emanuel e à querida Maura pela
    merecida escolha.
    Beijos desde Portugal
    Carmo

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